A equipe da Brasil Paralelo. No canto esquerdo, Henrique Viana, fundador e diretor-executivo da empresa.| Foto: Divulgação
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Com a ascensão do conservadorismo no Brasil em meados da década de 2010, versões sobre a história e a política brasileira que tinham pouco espaço em meios de comunicação e instituições de ensino começaram a ganhar visibilidade e tornar o debate público no país mais heterogêneo. Nessa reviravolta, uma das protagonistas foi a Brasil Paralelo, empresa de mídia que, desde 2016, lança documentários desafiando perspectivas de mundo hegemônicas entre intelectuais brasileiros.

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À medida que essas visões alternativas penetram na sociedade, a Brasil Paralelo expande sua base de assinantes. Em entrevista à Gazeta do Povo, Henrique Viana, diretor-executivo e um dos fundadores da empresa, revela que o número de membros de sua plataforma online aumenta em ritmo muito veloz, especialmente nos últimos meses: entre dezembro de 2019 e setembro de 2020, houve um salto de 15 mil para 112,1 mil assinantes. A meta é chegar a 1 milhão de membros até dezembro de 2022.

Além disso, de olho nos brasileiros que se incomodam com o viés ideológico progressista de grandes empresas da indústria do entretenimento, a Brasil Paralelo planeja se enveredar também nesse ramo, tornando-se uma concorrente de plataformas como a Netflix. Para Viana, além do embate no campo intelectual, há “uma nova batalha pelos corações sendo travada na internet”. “Será uma das batalhas mais importantes da próxima década”, afirma.

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Na entrevista, Viana também fala sobre as últimas séries de documentários lançadas pela Brasil Paralelo, como “Os 11 Supremos”, que faz uma análise sobre a vida e a atuação dos atuais ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e “Os Donos da Verdade”, que aborda as ameaças à liberdade de expressão no Brasil. Confira na íntegra:

Gazeta do Povo: Recentemente, segundo o UOL, vocês entraram numa discussão da Wikipédia para mudar o verbete sobre a Brasil Paralelo, por causa de uma definição pejorativa que tinha sido feita sobre a empresa. Como vocês gostariam de ser definidos?

Henrique Viana: A Wikipédia se propõe inicialmente à livre edição, porém bloqueou as edições na página sobre a Brasil Paralelo e deu a liberação de editar apenas a um indivíduo, que está inserindo fake news sobre a nossa empresa. A página da Wikipédia sobre a Brasil Paralelo tornou-se um repositório de fake news e narrativas ideológicas, sem que nenhum outro usuário possa editar e promover a autorregulação, que é a essência da plataforma. Estamos tentando dialogar com a plataforma para que outras pessoas possam editar nossa página e inserir as informações verdadeiras.

Sobre a nossa definição, seria bom que quem fizesse definições sobre a Brasil Paralelo primeiro conhecesse o nosso trabalho, para que conseguisse fazer isso de forma honesta. Somos uma empresa de mídia, privada e 100% independente, orientada à busca da verdade e contrária à ideologização em produção de conteúdo.

O crescimento da Brasil Paralelo

Gazeta do Povo: Qual é a situação da Brasil Paralelo hoje em termos de crescimento?

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Henrique Viana: Estamos crescendo. Somente neste ano, a cada trimestre, mais de 5 milhões de usuários únicos assistiram a ao menos um dos nossos mais de 30 documentários. Ainda não foi possível estimar quantas pessoas, em média, estão na frente do dispositivo assistindo, então o número de pessoas pode ser esse ou maior, por trimestre.

Importante ressaltar que “usuário único” significa um perfil que assistiu uma ou mais vezes, o que é diferente da contagem de visualizações. Estamos falando do número de pessoas. Quando expandimos essa análise para os últimos três anos, esse número chega a 17 milhões de usuários únicos.

O crescimento de audiência e também da qualidade do trabalho geraram um crescimento na base de membros assinantes, que é a fonte de receita da empresa. Os assinantes tornam-se membros da Brasil Paralelo, acessando conteúdos exclusivos e fazendo formação através de cursos especiais do Núcleo de Formação, além de financiarem o crescimento da Brasil Paralelo. Todos os nossos membros orgulham-se do trabalho que realizamos para a audiência externa e têm a consciência de que estamos melhorando a cultura do Brasil.

Gazeta do Povo: Quantos assinantes vocês têm?

Henrique Viana: Neste momento, 112.108 membros assinantes.

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Gazeta do Povo: No Youtube, o vídeo mais popular da BP é o “1964”. Por que as pessoas se interessaram tanto por esse conteúdo?

Henrique Viana: Por décadas consecutivas, este período histórico foi tratado quase que exclusivamente sob viés ideológico. Isso se deu por parte de diversos setores da sociedade: políticos, jornalistas, acadêmicos e professores em geral. Quando um tema importante é ensinado de forma ideológica, num primeiro momento obtêm-se resultados alinhados à ideologia, mas, num momento sequente, as pessoas começam a se questionar e surge uma demanda pela verdade. A realidade objetiva é sempre mais completa e com mais nuances do que a narrativa ideológica. A ideologia é um recorte que tem uma intenção. Nesse caso especifico, a coisa ainda se agrava pois o tema foi abusivamente usado como uma espécie de mito fundador de grupos políticos revolucionários do país.

Nós somos contra a ideologização na atividade de produção de conteúdo. Quando você acredita que a verdade existe e se propõe a investigá-la, qualquer ideologia, por mais bonita e atraente que seja, em algum momento acaba se desmontando, provando-se limitada – algo sempre fica de fora, algo não bate…

O nosso filme foi uma descompressão dessa demanda pela realidade do período histórico. Não achamos nem de longe que ele é a perfeita expressão da verdade do que houve na época, até porque isso seria impossível de fazer. A verdade é uma busca inesgotável. Contudo, o público reconheceu o nosso esforço honesto nessa direção e a qualidade do nosso trabalho. Esse filme é possivelmente o documentário histórico brasileiro mais assistido do YouTube.

Gazeta do Povo: No fim do ano passado, a imprensa atacou bastante a BP por causa do espaço na TV Escola para exibição da série “A Última Cruzada”. Vocês se consideram vítimas de intolerância?

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Henrique Viana: Na verdade, somos vítimas de fake news. O jornal que publicou mentiras sobre este caso da TV Escola está sendo condenado pela justiça a publicar um direito de resposta nosso (processo nº 5037334-23.2020.8.21.0001, em trâmite na 1ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre/RS). Esse tipo de caso não é novidade para nós – recentemente, um jornal foi obrigado pela justiça a publicar retratação com direito de resposta por ter mentido sobre o nosso filme “1964”. Essas empresas estão fazendo um péssimo trabalho para a sociedade, deixando suas emoções e preferências ideológicas tomarem conta de sua conduta.

Nossos documentários são gratuitos. Qualquer um pode publicar, republicar ou transmitir em qualquer lugar. E isso acontece bastante: quase todos os dias recebemos fotos e relatos de algum evento em que um filme nosso foi transmitido, seja num grupo de estudos, em uma alguma praça pública ou em universidades. Ainda assim, quando o assunto envolve estado, é sempre importante lembrar que a Brasil Paralelo não recebe nenhum dinheiro público, de nenhuma maneira, nem diretamente, nem com leis de incentivo, nem com empréstimos de bancos públicos. Isso é um princípio que pauta nosso comportamento desde o dia 1 da Brasil Paralelo e que hoje transformou-se em um programa de compliance para que se perpetue para sempre na organização.

Gazeta do Povo: A Brasil Paralelo é alinhada ao governo Bolsonaro?

Henrique Viana: Não.

Séries mais recentes

Gazeta do Povo: A última série de vocês fala sobre a liberdade de expressão. Por que a escolha do tema?

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Henrique Viana: Porque estamos perdendo a liberdade de expressão no Brasil e no mundo, e isso é desastroso para a nossa sociedade. Fizemos o filme para expor esse desastre e contextualizar o tamanho do problema quando o assunto é a liberdade de expressão.

Gazeta do Povo: Por que a decisão de produzir uma série sobre os 11 ministros do STF?

Henrique Viana: Por que não falar sobre o que todos querem saber? Qualquer empresa de mídia tem a responsabilidade de publicar o que é do interesse da sociedade. As grandes empresas de mídia já deveriam ter feito, inclusive.

Muitos comentários na internet afirmam que somos corajosos, pois não tivemos medo de fazer isso. É uma evidência de que o ecossistema midiático brasileiro está doente. Nós não temos problema nenhum com isso, somos 100% independentes e estamos prontos atender o anseio da nossa audiência, seja ele qual for, com responsabilidade e empenho.

Gazeta do Povo: Vocês consideram que a sociedade brasileira precisa de uma revolução estrutural profunda, como o próprio nome Brasil Paralelo pode sugerir?

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Henrique Viana: O nome Brasil Paralelo não tem a ver com uma proposta para o Brasil. Não somos nenhum movimento político. O nome é uma referência a um modo de agir, totalmente independente do estado.

Gazeta do Povo: Como foi a escolha do nome “Brasil Paralelo”?

Henrique Viana: Queríamos deixar evidente desde o início que não jogaríamos o jogo tradicional, que mantém empresas dependentes de contratos com governos, empréstimos subsidiados ou incentivos fiscais. Esse jogo é a regra quando se trata do mercado de filmes e do mercado de mídia no Brasil. Acreditamos que qualquer centavo de dinheiro público pode comprometer para sempre o serviço que uma empresa presta à sociedade, pois o estado é tão feroz que logo se torna mais importante para a empresa do que os seus próprios clientes. O nome é sobre uma forma de agir independente. Duas retas paralelas nunca se encontram.

O futuro da Brasil Paralelo

Gazeta do Povo: À medida que o tipo de visão que a BP transmite sobre a realidade brasileira tenha algum efeito na sociedade e se torne mais comum nos meios de comunicação, a tendência é que vocês precisem buscar alternativas de conteúdo para se diferenciar. Como vocês projetam o futuro da BP?

Henrique Viana: Nós buscamos inovação permanente e temos o objetivo de sempre lançar a melhor e mais enriquecedora abordagem sobre um tema. O gênero documentário tem sido uma grande demanda e nós a estamos atendendo. A necessidade de resgate de conhecimento é grande no Brasil, a educação brasileira é de péssima qualidade e essa demanda é latente. Além disso, as novas tecnologias de distribuição de conteúdo através da internet permitem novos modelos de negócio de mídia, muito mais eficientes e muito mais baratos. A Brasil Paralelo tem operado bem nesse ambiente de inovação contínua e, na medida em que a companhia crescer, expandiremos nossas frentes de conteúdo e distribuição.

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Gazeta do Povo: Hoje, a indústria de vídeos de entretenimento no Brasil e no mundo é dominada por conteúdo ideológico progressista. Há a possibilidade de a BP investir no ramo do entretenimento como um contraponto a essa realidade?

Henrique Viana: Sim. A missão da Brasil Paralelo é resgatar os bons valores, ideias e sentimentos no coração dos brasileiros, e o entretenimento é uma das principais ferramentas para esse resgate. Hollywood e Disney exportaram valores, ideias e sentimentos dos Estados Unidos para o mundo através do entretenimento. No Brasil, um dos exemplos são as novelas que foram costurando o modo de ser brasileiro médio ao longo de décadas. Agora existe uma nova batalha pelos corações sendo travada na internet, pois até mesmo a indústria de filmes internacional agora opera fortemente nos serviços de streaming. Será uma das batalhas mais importantes da próxima década, onde o rumo da cultura ocidental será disputado palmo a palmo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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