• Carregando...

O salão de baile do Clube Concórdia, em Curitiba, vai lotar hoje de advogados e juristas de diferentes gerações no tradicional Baile do Rubi (a pedra do curso), que acontece de cinco em cinco anos na capital. Na data em que se comemora o Dia do Advogado – famoso Dia da Pendura (em que estudantes costumam sair sem pagar de bares e restaurantes), acadêmicos formados pela faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde a década de 40 vão se encontrar na festa que celebra os 75 anos do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS). Serão pelo menos 600 pessoas reunidas para comemorar e relembrar a história do mais antigo centro acadêmico do Paraná.

"Estamos em uma fase de resgate histórico. Tivemos a colaboração de ex-alunos da faculdade e seus familiares para reunir material, como publicações e fotos, e relembrar histórias do centro acadêmico. Todos que passaram pelo CAHS têm um carinho especial por ele", diz o atual presidente do centro, Rene Toedter. As sete décadas e meia de história foram reunidas em um vídeo documentário, com depoimento de ex-integrantes, que será lançado hoje à noite, durante o baile. São fatos vividos dentro da universidade que acompanham parte da história política do país: lembranças de perseguição do governo e da polícia, de luta pela democracia e direitos da população, de busca de autonomia do curso e qualidade de ensino. "A luta pela universidade pública, gratuita, com educação de qualidade faz parte da tradição do CAHS", destaca Toedter.

Figuras ilustres da história da Justiça e da política do Paraná passaram pelo centro acadêmico de Direito da UFPR. Presença confirmada no baile de hoje, o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, desembargador Oto Sponholz, lembra com riqueza de detalhes não só de seu tempo na presidência do centro acadêmico, em 1963, como de fatos marcantes das gestões que o antecederam. "Em 1961, o CAHS promoveu o Julgamento de Otelo, o personagem de Willian Shakespeare que foi representado pelo ator Paulo Autran. Foi a primeira transmissão externa ao vivo da TV Paranaense. Durante mais de quatro horas, toda a cidade pôde acompanhar o juri-simulado, onde todos os jurados eram estudantes. Foi marcante durante três gestões do centro acadêmico: num ano o julgamento, no ano seguinte sua transformação em livro e, depois, o lançamento da obra, publicada pela Imprensa Universitária", detalha.

Duas décadas depois da gestão de Sponholz, em 1985, foi a vez do hoje deputado federal Gustavo Fruet assumir a presidência do CAHS e entrar para a história do centro e da UFPR como o presidente que teve presente em sua posse Ulisses Guimarães, um dos símbolos da redemocratização do país. "Era uma época de discussão entre os estudantes da importância da Assembléia Nacional Constituinte e ele resolveu participar. Tenho saudades daquele tempo. Era uma política pura, idealista. A política profissional é muito brutalizada", afirma Fruet.

Ditadura

Nem só de doces lembranças é montada a história do CAHS. Quem participou do movimento estudantil em períodos de ditadura traz na memória uma história de perseguições, mas não se arrepende. O professor de Direito Ambiental Vitório Sorotiuk, que encabeçou o CAHS entre 1967 e 1968, certa vez, após uma manifestação dos estudantes, teve de fugir da polícia pelo telhado da sede de um jornal. Meses depois, quando passou a presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), não teve como fugir: ficou preso por dois anos e dez meses. "As condições daquela época eram bem diferentes das de hoje. Os estudantes de Direito combatiam a ditadura, pois a base do Direito é o processo democrático. Deveria ter me formado em 1969, mas por causa da prisão, acabei concluindo o curso só em 1983", conta.

A tradição do CAHS, acredita Sorotiuk, foi uma cultura criada ao longo dos anos e que é recebida como uma herança por quem passa a fazer parte do centro acadêmico. "O curso de Direito da Federal tem o acervo dos professores e da participação dos estudantes na vida pública. Quem entra para o CAHS passa a ser herdeiro desta tradição e faz o possível para mantê-la", avalia o advogado. Para o desembargador Oto Sponholz, a manutenção da presença do CAHS na universidade por 75 anos é algo próprio do Direito. "Faz parte do exercício profissional do Direito o comprometimento com os problemas públicos e a capacidade de se fazer ser ouvido e convencer as pessoas."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]