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Volto ao assunto da coluna passada, na qual falei sobre hipercorreção. Recebi e-mails pedindo mais exemplos. Um leitor foi bem sincero e disse que não entendeu quase nada. Então vamos lá.

Conforme definição do dicionário Houaiss, hipercorreção é um "fenômeno que se produz quando o falante estranha, e interpreta como incorreta, uma forma correta da língua e, em consequência, acaba trocando-a por uma outra forma que ele considera culta". Por exemplo, muitas pessoas falam "malmita" e "galfo" em vez de "marmita" e "garfo". Com isso, procuram se diferenciar de falantes que dizem "mardade" e "marvado". Não custa lembrar que os brasileiros que trocam o AL (AU) de "maldade" e "malvado" pelo "ar" invariavelmente são pessoas pobres e com pouco estudo, tachadas de caipiras, gente do mato, jecas. Na vida real, as avaliações do modo como as pessoas falam pouco têm a ver com a língua mesmo, com sua estrutura, com sua regras gramaticais. Na verdade, as avaliações são feitas sobre o sujeito que fala. É a pessoa, vejam bem, que é avaliada, e não a língua. Os casos de hipercorreção devem ser compreendidos nesse contexto.

Mas é claro que não são apenas pessoas pobres e pouco estudadas que estranham formas corretas da nossa língua e as trocam por outras que julgam cultas. Falantes escolarizados estão sujeitos, entre tantas outras, às famosas construções "haviam dez pessoas", "fazem dez anos", "tratam-se de temas complexos", "precisam-se de médicos". Aqui, os verbos deveriam estar no singular, mas a pessoa não quer ser confundida com quem não segue a regra de sempre concordar o verbo com o sujeito. Acontece que não há sujeito nos exemplos acima, portanto os verbos ficam no singular mesmo.

Assim como a "malmita" e o "galfo", esses são exemplos de hipercorreção. Adilson Alves é professor.

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