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Fiquei devendo uma análise do texto que consta nas normas da Vigilância Sanitária: "Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado". Antes de escrever esta coluna, plantei-me diante da tevê para checar se é essa mesma a mensagem veiculada, pois tenho a impressão de já ter lido e ouvido "A persistirem os sintomas...". Não consegui ouvir nem ler nada. Aquelas propagandas de remédios milagrosos que fazem zumbis adquirirem as feições de pessoas hiperdispostas em poucos segundos não foram ao ar.

Mas a dúvida de algumas pessoas continua: o adequado não seria "A persistirem os sintomas..."? Vamos diagnosticar o problema. Antes um aviso importante: "A persistir a dúvida, outro professor deverá ser consultado".

As duas construções têm sentidos diferentes. "Ao persistirem os sintomas" veicula sentido temporal. Podemos trocar "ao" por "quando": "Quando persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado". Caso a intenção original do Ministério da Saúde tenha sido a de dar sentido condicional ao aviso, aí a construção seria "A persistirem os sintomas". Nesse caso, trocamos o "a" por "se": "Se persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado" (caso os sintomas persistam, etc.).

Sintetizando: ao+infinitivo = tempo; a+infinitivo = condição.

De qualquer modo, mesmo que a intenção do ministério tenha sido a de estabelecer nexo condicional, a construção temporal também acaba cumprindo o papel de alertar o consumidor.

Muitas vezes, os limites entre condição, tempo, causa são muito tênues, difíceis de serem estabelecidos rigorosamente. Por exemplo, a frase "Quando o remédio não funciona, procuro o médico" veicula a ideia de tempo, mas também a relação de causa e efeito.

No fundo, o problema do texto é não deixar claro que, antes de comprarmos remédios, devemos procurar um médico.

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