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Eufemismo é uma figura de linguagem que empregamos quando queremos suavizar alguma coisa que dizemos ou que escrevemos. Um exemplo bem conhecido é este verso magnífico de Manuel Bandeira, em que o poeta busca suavizar a inexorabilidade da morte trocando a palavra "morte" por "Indesejada das gentes": "Quando a Indese­­ja­­da das gentes chegar".

Saindo da esfera poética e entrando em terreno prosaico, vale lembrar um recorrente eufemismo usado pelos políticos, parece-me que sobretudo pelos deputados em CPIs. Refiro-me a esta pérola: "Vossa Excelên­­cia faltou com a verdade". Evita-se dizer que fulano "mentiu". Claro: quem mente é mentiroso – e políticos apenas faltam com a verdade. Será que o pronome de tratamento "Vossa Exce­­lên­­cia" também não é usado como eufemismo para não se dizer outra coisa menos nobre?

Há diversas situações que nos obrigam a recorrer a eufemismos. Pelo menos para mim, a mais delicada é quando alguém pede minha avaliação sobre determinada comida. Porque, sem eufemismos, muitas vezes não gostamos daquele prato que nosso amigo demorou horas para preparar. E jamais podemos dizer que não gostamos, mas que valeu pelo convite, o que importa é a amizade. Por outro lado, caso não gostemos, é bom não cair no erro de tecer um monte de elogios. Certa vez um colega me ofereceu uma cerveja caseira, de que não gostei, mas que elogiei além do indicado. Re­­­sultado: tomei uma garrafa e levei outra para casa.

Em matéria de eufemismos envolvendo comida e bebida que nos são oferecidas, ninguém supera uma criação do repórter Ernesto Paglia. Numa matéria que fazia no Acre, para o JN, índios lhe ofereceram uma bebida. Ele deu um gole, ficou sério, olhou para a câmera e mandou esta: "A gente tem que aprender a gostar". Bela aula de jornalismo, de civilidade e de língua.

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