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Nossa língua não precisa que a defendamos. Pelo menos não da maneira como são apresentadas as razões de seus defensores. Trazê-la ao centro do debate político é necessário, sem dúvida. Contudo, é fundamental que conheçamos algumas peculiaridades desse objeto que desperta tanta paixão em alguns de nós.

Para exemplificar o raciocínio, tomemos a questão dos estrangeirismos. Por que para muitas pessoas é repugnante que palavras inglesas se misturem ao nosso idioma e ajudem a compor frases, textos, slogans? Por que homens e mulheres que militam nas mais progressistas causas contemporâneas tremem de ódio quando leem termos estrangeiros em um outdoor?

As razões, obviamente, podem ser variadas e complexas. Mas não estamos errados ao afirmar que a nossa resistência aos estrangeirismos quase sempre se explica pela aversão – ou medo – que temos dos países em que esses termos se constituem na própria língua oficial. Quando a França ditava modas por aqui, nossa adversária era a língua francesa. Hoje, é na língua inglesa que descontamos nossas diferenças com os "ianques".

Em meio a esse fogo cruzado, nossa língua, assim como todas as línguas do mundo, não perde a classe. Adapta os termos mais importantes e sempre de acordo com o nosso jeito de falar e escrever. Enjoa de alguns e os descarta para sempre. Coloca os estrangeirismos dentro da nossa sintaxe e os flexiona segundo nossa morfologia. Sem estardalhaços.

Sim. Um dia nossa língua estará bem diferente. Gregório de Matos levaria um susto se ressuscitasse. Talvez precisasse de um tradutor, até acostumar os ouvidos a tantas mudanças. Entretanto, sustos desse tipo nos são impossíveis, pois nem sentimos essas mudanças.

De resto, continuaremos, vida afora, fazendo declarações de amor na língua que aprendemos na infância. E nessa língua daremos adeus às pessoas que amamos.

Adilson Alves é professor

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