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Duas polêmicas estão na pauta dos meios de comunicação: um projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa da Bahia impede que verbas públicas estaduais sejam usadas para contratar ou patrocinar eventos com grupos musicais de repertório que "desvalorize, incentive a violência ou exponha mulheres à situação de constrangimento"; e um "manual de sobrevivência do calouro", editado por veteranos do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), dá dicas para os calouros se saírem bem na vida amorosa, ou melhor, sexual. O manual fala de outras coisas, mas a polêmica reside nesse ponto.

Vou me distanciar dos episódios em si e fazer um percurso para tentar compreendê-los e, talvez, explicá-los.

Até bem pouco tempo, mulheres, negros e homossexuais (a lista é bem maior) eram tratados como seres inferiores – inclusive pelo Estado. Portanto, discursos sobre esses grupos circulavam com enorme liberdade, pomposamente científicos e oficiais. Discutia-se, por exemplo, se o negro tinha ou não tinha alma. Não a existência da alma, vejam bem. Afirmava-se que o homossexualismo era uma doença; em certos ambientes de crença religiosa, ainda é tratado como uma possessão demoníaca.

Hoje, felizmente, assistimos à emergência política dessas chamadas "minorias". É natural, pois, que aqueles discursos discriminatórios percam cada vez mais a oficialidade, que sejam contestados, repudiados. Vivemos em uma arena em que as vozes se chocam, em que há respostas, em que há tensão. E a tendência é que os embates sejam cada vez mais frequentes.

Nossa compreensão das reações aos dois episódios deve considerar o momento histórico (político e social) em que vivemos, no qual vozes sociais cada vez mais organizadas lutam pelo poder.

O momento é propício para discutirmos o que podemos dizer/escrever e também qual deve ser o limite da nossa peneira.

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