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Vejo com simpatia algumas reações ao manual "Como cagar em cima dos humanos em 12 lições", editado por veteranos do curso de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e distribuído aos calouros. Mas não considero válidas todas as interpretações que estão sendo feitas. Algumas leituras, como as que acusam o livresco de fazer apologia ao estupro, são exageradas e deturpadoras.

O manual já se apresenta, desde o título, como uma piada, como um texto jocoso e sem nenhuma força de lei. Não se afirma como a "fala" da coordenação do curso, mas de alunos mais velhos e experimentados em algumas situações – algumas próprias da UFPR (cagadas de pombos) e outras que ultrapassam a vida acadêmica e são extensivas a outros contextos, como as descritas na escatológica seção "O fim de seus problemas sentimentais".

Seguramente, o uso do verbo "dar", com sentido de "manter relações sexuais", é o ingrediente mais explosivo desse trecho. Ele está longe da polidez da linguagem jurídica, mas quem usa o verbo "cagar" no título de uma obra não vai recorrer a eufemismos. É preciso anotar, porém, que os redatores usam outras palavras para fazer o Código Civil e a Constituição dizerem mais do que dizem, num exercício que anuncia, ironicamente, uma prática comum na vida acadêmica e profissional de todas as áreas.

É surreal imaginar que um veterano vá usar esse manual para obrigar uma caloura a manter relações sexuais. Tarados não usam esse tipo de expediente. Não podemos admitir que uma caloura se sinta obrigada a fazer o que não quer por causa do manual. Porque aí seria ingênua e incapaz de ler um besteirol desse tipo. Como passou em um vestibular tão concorrido?

Um problema grave do manual é que, pelo menos nessa seção, traz só a fala do "macho". Não dá instruções, por exemplo, de como recorrer à lei quando o homem promete uma coisa e mostra outra bem menor.

Nem quando "dá"... aquela brocada.

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