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Pois andei vendo alguns dos candidatos a Oscar. Embora já há anos eu não consiga me lembrar do nome de um diretor, ou relacioná-lo com o título de um filme, ou dizer quem fez um papel interessante naquela fita sobre... sabe qual? aquela uma que tem aquela atriz que trabalhou naquele outro filme de que também me esqueci – bem, apesar de tudo, vejo quase um filme por dia, porque as imagens me inspiram. Gosto de uma boa história com uma boa atmosfera. Às vezes um único personagem interessante, uma boa sequência, valem o tempo gasto. Mas com a safra deste ano, parece que está difícil até mesmo isso. Fiquei impressionado com a mediocridade. É muito melhor ir à locadora e pegar um lote de quinze fitas B dos anos 50 do que ver uma sequência do cinemão americano de hoje.O Cisne negro conta a história de uma bailarina de ponta que fracassa no seu melhor momento e no seu melhor papel. Tudo para ser um belo filme sobre os limites da corrida de obstáculos a que nos submetemos diariamente. Para isso bastaria um bom texto, alguma complexidade psicológica, sutilezas bem dosadas, ambiguidades internas da personagem. Mas é pedir demais. Muito melhor caramelar uma crise pessoal com recursos de filme de terror e efeitos especiais caprichados, e tudo se resume a uma patologia. Dian­­­te do terror, somos todos vítimas. A personagem, chapada de medo do primeiro ao último segundo do filme, não consegue ser nem se transformar em nada.

Depois tentei o Bravura indômita. Ruim demais. Um filme adulto feito para crianças. Recursos de Walt Disney – a menina tem a densidade, a graça e o brilho de um desenho animado –, e o velho ranzinza é a síntese de todos os chavões do velho oeste, requentados até o último sotaque. Às vezes me ocorria que ele era um tio do Shrek. Pensando bem, não seria má ideia – foi mesmo um filme pensado com a idade mental do desenho animado. Uma repetição de tudo. A cavalgada final é constrangedora.

Minhas mães e meu pai, outro candidato, consegue uma proeza fantástica: contando a história de um casal de lésbicas com dois filhos concebidos por inseminação artificial e que se envolvem com o doador, o filme é um dos mais caretas e conservadores que já vi. É a apoteose da família americana anos 50, o triunfo da cozinha planejada, versão "novos tempos". Saudade da era em que o ci­­­­nema adaptava peças do Tennessee Williams em vez de criar essas historinhas edificantes. É de doer.

Bem, até a semana passada eu estava pondo as minhas fichas no Toy Story 3 – melhores atores, melhor roteiro, melhor tudo. Vi com meu filho em 3D e curtimos muito. E então assisti a Inverno na alma, esperando pelo pior. Mas não. É incrível – eu gostei. Um roteiro refinado, clima sob medida, um mergulho gótico no mundo rural e sinistro do sul dos Estados Unidos e uma atriz que convence do começo ao fim. Não vai ganhar o Oscar, certamente, mas vale o ingresso.

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