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O grande assunto do mun­­do do livro, hoje, é o li­­vro eletrônico. Basica­­mente, é um arquivo digital que se baixa via internet, celular ou aparelho especialmente desenhado para isso, para ser lido na telinha. Há anos se fala dele e de suas vantagens: não pesa, não ocupa lugar no es­­paço, custa muito menos que o livro de papel. E, como efeito colateral, dispensaria bibliotecas, estantes, pó e traças. Ele veio em ondas: primeiro falou-se em livro-cedê (alguém se lembra das primeiras enciclopédias em disco?), depois em arquivos simples em formato texto para ser lidos no computador e finalmente apareceram os primeiros "leitores", maquininhas projetadas para leitura, com o tamanho de um livro e um botão de "virar páginas". Algumas até imitavam o ruído de uma página virando.

Mas a coisa não pegava. Preço alto, reflexos na imagem, limitações de formato, falta de hábito. Recentemente, a Amazon Books, a maior livraria virtual do planeta, lançou um modelo que caiu nas graças dos americanos, de tal forma que o livro eletrônico passou a ser o grande assunto das feiras internacionais do livro. A razão do entusiasmo é que vinculou-se ao aparelho – que aliás imita a página impressa com uma qualidade que os anteriores não conseguiam – uma rede universal já instalada de arquivos digitais, a própria Amazon. E ela está entrando forte no mercado, propondo associações com editoras importantes do mundo inteiro, o que inclui também as brasileiras.

Esse é um tema fascinante, sob qualquer aspecto. São mu­­danças radicais, tanto na relação do usuário com o objeto, quanto na relação comercial subsequente. Sim: muitos dirão que é chato ler um livro num monitor. Eu mesmo não consigo ler mais do que três páginas – além disso, melhor imprimir e ler. Mas pensemos nas novas gerações, nas crianças que já aprendem a soletrar no computador. Essa multidão está prontinha para o livro digital. No Brasil, há um detalhe suplementar curioso: a população foi historicamente "educada" do ponto de vista visual – lem­­bremos que para a metade do país a TV chegou antes do li­­vro. E, no aspecto comercial, desenha-se uma revolução incrível: nada impede que eu formate um livro em casa e ponha-o à venda diretamente numa grande rede digital, dispensando a tradicional editora.

Bem, são apenas especulações – na verdade, ninguém sa­­be o que vai acontecer com o livro digital. De minha parte, nada contra. Como não tive au­­torama quando criança, sou até hoje fascinado por tudo quanto é quinquilharia eletrônica. Mas tenho certeza absoluta de que o velho e bom livro vai continuar firme e forte durante séculos. Não se trata de "ou um, ou ou­­tro", mas apenas de um e outro convivendo pacificamente, cada um com seus nichos de leituras e leitores. Cá entre nós, fico com o livro de papel. Seria muito triste um mundo sem a delícia dos sebos, dominado somente por abstrações digitais –e sem capas!

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