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Dos poucos brasileiros que devem sobreviver ao Fim do Mundo, os descendentes da família Beleléu Cucuia já estão fazendo planos do que fazer sozinhos no planeta. A árvore genealógica da família começa no ano 1000, quando a fome e as epidemias devastaram a Europa, restando apenas Beleléus e Cucuias. Dessas duas cepas surgiram vários rebentos que atravessaram os oceanos para fincar raízes em Alhures. Em Alhures do Sul o primeiro Cucuia botou o pé no Brasil a mando de dom João VI, para administrar o tesouro da Corte nesta então colônia que virara sede do Império. Depois daquele fim de mundo às margens do Ipiranga, dom Pedro I sequestrou o tesouro, embarcou para Portugal e o patriarca dom Babau Cucuia ficou no porto do Rio de Janeiro a ver navios.

Dizem que o homem de sorte é aquele que está no local certo, na hora certa. Os descendentes de Beleléu Cucuia são uma exceção. Sobreviveram a vários holocaustos, sempre estando no local certo, mas sempre na hora errada. No terremoto que destruiu Lisboa, em 1755, o sismo foi seguido de um tsunami com ondas de mais de 20 metros de altura e de múltiplos incêndios que certamente mataram mais de 10 mil pessoas. A família Cucuia escapou milagrosamente daquele fim do mundo porque, pela graça divina, todos eram serviçais da Corte do rei dom José I e a Corte tinha deixado a cidade depois de assistir a uma missa ao amanhecer, encontrando-se no momento da hecatombe em Santa Maria de Belém, nos arredores de Lisboa.

A matriarca dos Cucuia tinha o nome de Esperança. Dona Esperança Cucuia vive até hoje porque a esperança é a última que morre. Nos braços da Esperança todos foram morar em Brasília, na esperança de dias melhores. Era o que se prometia, não fosse ela trabalhar de faxineira no Palácio Alvorada, nomeada por Jânio Quadros. O Palácio era um relaxamento. Quantas vidraças Oscar Niemeyer criou para a coitada limpar, quanta sujeira sob os tapetes. Mesmo assim ela não renunciou ao dever. Quem renunciou foi Jânio Quadros, deixando a adega oficial do Estado em pandarecos. Dona Esperança só escapou daquele fim do mundo porque era diarista da dona Thereza Goulart.

Funcionária-padrão, dona Esperança também acompanhou Luiz Inácio Lula da Silva no terceiro andar do Alvorada, de quem empilhou muitas e muitas garrafas vazias. Quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência da República, o jovem Babau Beleléu Cucuia estava na fila do gargarejo. No dia seguinte, Cucuia recebeu um telefonema da Casa Civil. Era a ministra Gleisi Hoffmann: "Babau, você gostaria de trabalhar no gabinete de um promissor deputado do Paraná, o companheiro André Vargas?"

Em todos os processos da Operação Lava Jato, a Polícia Federal não citou o nome de Babau. Só está escrito no Apocalipse que a família Beleléu vai sobreviver ao fim do mundo.

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