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O caso pode ter começado num encontro anual da Casa do Estudante Universitário (CEU), quando velhos colegas de faculdade resolveram se dividir para esticar a noite: os casados foram dançar em Santa Felicidade; os solteiros foram zonear na Moon Light, a boate que agitou por muitos anos a esquina da Avenida Sete de Setembro com a Rua Nunes Machado.

Um dos casados, professor de Física, pediu um favor ao colega professor de Matemática: "Meu carro estragou e vai atrasar para ficar pronto. Antes disso, você poderia levar a minha mulher para a festa? Nos encontraremos lá!" Combinado, o professor de Matemática só não lembrou que os casais tinham encontro marcado em Santa Felicidade e, sendo solteiro, levou a mulher do amigo à Moon Light.

O ciumento professor de Química não encontrou a companheira em Santa Felicidade. Depois de atravessar a cidade duas vezes, quase entrou em combustão ao encontrar a mãe de seus três filhos embevecida com os shows de strip-tease da Moon Light. Tanto gostou do Cuba Libre que até convenceu o marido a voltar num outro dia. O professor de Química, muito a contragosto, reuniu na semana seguinte alguns amigos e, em grupo, voltaram à erótica esquina da Avenida Sete de Setembro. Assim que chegaram, o porteiro da boate chamou a mulher do professor à parte: "A entrada das dançarinas é por essa porta ao lado!"

O professor de Química, achando que ia economizar uns trocados, fez sinal para a patroa seguir em frente. Enquanto a turma se demorava na fila de ingresso, que aos sábados se estendia pela Nunes Machado, a esposa do professor seguiu pelo corredor que dava nos fundos da boate, na cola das bailarinas, com os saltos altos em batucada no piso de lajotas da área de serviço.

Ao chegar aos camarins, a estranha no ninho se viu perdida: "Por favor, como é que eu faço para encontrar o meu marido nas mesas?" Retocando a maquiagem, a dançarina respondeu: "Basta atravessar o palco, meu anjo!"

O anjo botou o pé no palco exatamente quando o sonoplasta mandou ver a introdução de New York, New York da próxima atração. Assim, de súbito sob o spotlight, completamente cega, as pernas da senhora não sabiam se iam, vinham ou voltavam. E da selvagem plateia veio, então, uma coleção de impropérios que deixou o professor de Química com a fúria dos assassinos:

"Bagulho é o cacete! É a minha mulher, mãe dos meus filhos! Canalhas! Baranga é a mãe de vocês!"

Os leões de chácara retiraram o casal da boate embaixo de pancadas.

Em menos de duas semanas a boate Moon Light pegou fogo.

Descasado, o professor de Química agora é pastor evangélico no interior de São Paulo.

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