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O mundo ficou em choque com as imagens, divulgadas na semana passada, da decapitação do jornalista norte-americano James Foley por terroristas do grupo extremista Estado Islâmico. A rebelião na penitenciária de Cascavel, no Oeste do Paraná, com duas mortes de presos, também decapitados, aproxima o Brasil da barbárie do Oriente Médio – ao menos no método. Embora haja motivações completamente distintas nos dois casos, uma simbologia os une: decapitar é mais do que assassinar e impor o terror; é desprezar completamente a razão humana como base do convívio social. Afinal, a cabeça é a morada do intelecto. Tirar-lhe do corpo é a celebração máxima da irracionalidade e da bestialidade que o homem carrega dentro de si.

Não é novidade que os jihadistas islâmicos rejeitam a concepção moderna de que a racionalidade deveria ser o centro da vida em sociedade. Para se contrapor a essa visão de mundo e impor sua religião como base social, adotam o terror. E, ao decapitar um norte-americano em frente das câmeras e exibir o ato bárbaro ao mundo, buscam tirar a razão do Ocidente, por mais paradoxal que isso possa parecer. Simbolicamente, a cabeça do jornalista que cai aos pés do terrorista é a voz de um modo de vida que se cala e um jeito de pensar que tomba . É como se a jihad tivesse, em sua guerra santa, conquistado a capital simbólica do inimigo – capital, aliás, é a cidade-cabeça de uma nação (o termo vem do latim caput, cabeça).

O caso dos detentos decapitados na rebelião de Cascavel difere profundamente. Não é um gesto com pretensões políticas. Mas também é um sintoma da irracionalidade contemporânea. Criminosos estão à margem da lei – que, por sua vez, pode ser definida como um acerto racional da sociedade para regular a vida em comum. Além disso, muitos vivem do uso da violência, que é a escolha da força em detrimento da razão. Desse modo, a crise da segurança pública pode ser vista como uma perda metafórica da cabeça social, da racionalidade que deve guiar os cidadãos. Um regresso, enfim, à animalidade.

Também há desrazão dos governos. Ao menos em teoria, as penitenciárias deveriam ressocializar os criminosos, levá-los a renunciar à força como modo de vida. Mas, em geral, isso existe apenas no papel e pouco se faz para mudar a situação. Muitos presídios são depósitos de gente e os detentos são tratados como animais. Não é de espantar que haja explosões de fúria como a de Cascavel. A bestialidade torna-se, assim, corriqueira.

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