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No mundo competitivo em que vivemos, parece não haver espaço para o insucesso – seja pessoal ou profissional. Vencer se tornou impositivo, obrigatório. Perder, no entanto, nos lembra que cometemos erros. Que somos humanos, enfim. E é justamente por sermos falíveis que certas derrotas valem mais que vitórias. Porque podemos aprender algo com elas. E também porque, se a perfeição não é uma qualidade intrínseca de nossa natureza, ao menos podemos extrair beleza dos revezes da vida. No fundo, isso é mais importante que a glória.

Talvez essa seja a razão pela qual o brasileiro lembre com tanto carinho da seleção de 1982, exatos 30 anos após aquele infortúnio em gramados espanhóis. Foi um time derrotado, é verdade. Mas que encantou o mundo com o que se convencionou chamar de futebol-arte.

Curiosa essa expressão. Opõe-se ao futebol-força. A arte, ao contrário da potência, não é atributo convencional dos vencedores. Não é uma arma clássica de triunfo. Existe para revelar a beleza e o que é bom. Daí a frustração tão forte de 82: foi uma derrota amargamente bela.

Não deixa ainda de ser singular o termo que os cronistas daquela Copa usaram para definir o jogo derradeiro do escrete canarinho: a tragédia do Sarriá – em alusão ao nome do estádio de Barcelona onde o Brasil perdeu para a Itália de Paolo Rossi. Tragédia é arte. É o gênero do teatro grego em que o protagonista é um herói que, embora rebelado contra o destino, não consegue se desatar do inexorável e encontra um fim infeliz. O drama encenado na Grécia Antiga tinha uma função social: mostrar, com a beleza artística, a triste condição humana; e, assim, ensinar o povo a viver a boa vida.

É confortante pensar que aquela seleção mágica de 82 também cumpriu esse papel com sua dolorida derrota. Porque o futebol é uma alegoria da jornada humana. Todos entramos em campo para vencer. Mas não importa o quanto lutemos e quantas glórias viermos a colecionar: perderemos inevitavelmente a partida última. Perderemos a vida. No fim, restará o que fizermos para os outros. Que seja, então, um pouco de arte. Que seja algo humano. Que seja algo bom e belo, como as memórias da seleção de 82. Assim seremos lembrados com estima.

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