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O ser humano só chegou onde está devido a uma boa picanha. Ao menos é isso que diz a tese científica de que foi a dieta baseada em muita proteína que propiciou aos homens das cavernas desenvolverem um cérebro diferenciado dos demais animais. A herança genética deixada pelos nossos antiquíssimos ancestrais – a inteligência – é o que hoje nos faz donos do mundo.

Mas, após nos tornarmos os senhores de todas as espécies, a carne é considerada atualmente por muitos como uma das grandes ameaças à nossa sobrevivência no planeta.

As flatulências do gado, segundo a Organização das Na­­ções Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), são responsáveis por 18% das emissões dos gases causadores do efeito estufa – a maior ameaça ambiental da atualidade. Entidades ambientalistas internacionais como o World Watch Institute aumentam essa responsabilidade para 51% – considerando todo o ciclo de produção de um quilo de bife até ele ser cozido ou frito em nossas cozinhas.

Consumir um bom pedaço de filé mignon, portanto, tem tudo para se transformar nos próximos anos no motivo de brigas acaloradas como as que são travadas em torno do fumo. Ou seja: até onde vai o direito da satisfação pessoal de alguém se esse prazer é ambientalmente nocivo? A isso se somará a discussão se é legítimo o homem matar animais para se alimentar.

A tese dos detratores da carne foi corroborada ontem pela divulgação de um estudo da FAO segundo o qual o aumento da população mundial e da renda em países em desenvolvimento pode levar a produção de proteína animal a dobrar até 2050. Ob­­viamente, isso traria mais ga­­ses do efeito estufa, não só em função da digestão do gado, mas também pela expansão das áreas de pastagens – muitas das quais sobre florestas a serem derrubadas.

Assim que o estudo foi divulgado, já houve quem defendesse a necessidade de se evitar que o consumo de carne venha a aumentar. "O problema é como impedir que isso aconteça. Quando a renda aumenta, o consumo de produtos lácteos e bovinos segue o mesmo caminho: não há exemplo em contrário no mundo", comentou o cientista Hervé Guyomard, do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França, em reportagem publicada no site da Folha de S.Paulo.

A principal questão de evitar que isso aconteça, porém, é que necessariamente a redução do consumo de carne privaria pessoas dos países pobres de ter uma dieta semelhante à dos cidadãos de nações ricas. Em nome do meio ambiente, seria criada uma exclusão social.

Talvez a solução esteja na tecnologia. No início do ano, pesquisadores da Holanda anunciaram a criação de um método para produzir carne de porco em laboratório, a partir da cultura de células-tronco dos músculos do animal. A pesquisa abriu a possibilidade de, no futuro, termos fábricas de bifes. Isso evitaria os temíveis gases do efeito estufa e a morte de animais. Aliviaria também o peso de nossas consciências quando nos dedicamos aos prazeres da carne.

Fernando Martins é jornalista

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