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Psicopatas e pedófilos, segundo especialistas, têm um desvio de caráter que não pode ser "curado" – o que exige outro tipo de ação do Estado para evitar que esse tipo criminoso volte a agredir a sociedade

Todas as instituições políticas que o homem construiu trazem em si a herança de duas concepções de mundo diametralmente opostas: a de que o ser humano é bom ou a de que ele tem uma natureza má, egoísta. Se temos uma forte tendência à falta de virtude, um Estado forte, até mesmo autoritário, seria necessário para controlar nossos impulsos primitivos. Mas, se somos bons, por que não um Estado mais liberal?

O problema desses dois paradigmas, que também justificam as políticas públicas que regem a nossa sociedade, é justamente o fato de que eles são mitos. O ser humano tem dentro de si tanto a semente do bem quanto a do mal. Pode ser capaz de elevar a alma aos céus e chegar perto dos anjos. Ou pode rastejar no chão como uma cobra. Essa complexidade não é abarcada pela visão maniqueísta da natureza humana, que cega a nossa compreensão dos problemas sociais.

A política brasileira para os presos, por exemplo, é filosoficamente fundamentada sobre a idéia de que o ser humano é bom e que, portanto, pode ser recuperado. Porém, a realidade mostra que, ainda que a ressocialização seja altamente desejável, ela não é uma panacéia para todos os casos.

O Paraná tem assistido nas últimas semanas a uma série de assassinatos e abusos sexuais praticados contra crianças. Um dos presos sob a acusação de ter violado um menino no litoral, por exemplo, já havia cumprido pena por estupro. Dentro da penitenciária, chegou a ser considerado pelas autoridades como exemplo de detento ressocializado. Saiu da prisão e voltou a cometer o mesmo crime. E derrubou o mito da ressocialização. Psicopatas e pedófilos, segundo especialistas, têm um desvio de caráter que não pode ser "curado" – o que exige outro tipo de ação do Estado para evitar que esse tipo criminoso volte a agredir a sociedade.

Já os policiais, em grande parte dos casos, costumam agir embalados pelo mito do homem mau. Através dessa lente embaçada, enxergam um bandido em toda a pessoa com um comportamento supostamente suspeito. Mas a cegueira costuma ser estampada nas páginas dos jornais nas notícias da morte de inocentes pela polícia. Ou nos abusos cometidos contra negros e favelados, associados no inconsciente de vários policiais, ao lado do mal.

A relação que o Estado tem com os chamados movimentos sociais é outro exemplo da visão maniqueísta da natureza humana. Na época da ditadura, todos eram "subversivos", uma ameaça. Após a redemocratização, passaram a ser romantizados. Tornaram-se exemplo da mítica luta do bem (os oprimidos) contra o mal (os opressores). E, assim, até mesmo o desrespeito à lei praticado por eles passou a ser tolerado pelos governos.

fernandor@gazetadopovo.com.br

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