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Com uma reportagem sobre os desafios para erradicar a pobreza no estado, a Gazeta do Povo encerrou no domingo a série de matérias Retratos do Paraná. O texto explicava as razões da miséria e usava exemplos do Centro-Sul paranaense – região que concentra a maioria das cidades pobres do estado, onde mais de 40% da população vive nessa condição.

Mas a questão pode ser vista de outro modo: o que faz ricas as regiões desenvolvidas? Nesse caso, o que chama a atenção é o Norte. O território pé-vermelho tem a maior aglomeração de municípios com mais igualdade social – nos quais a pobreza atinge no máximo 18% dos moradores.

Inúmeros fatores explicam o sucesso do Norte. Mas três são cruciais: a fertilidade das terras, a inserção econômica da região nos mercados internacionais e a forma de ocupação do território.

A produtividade das terras ro­­xas é bastante conhecida. Pro­pi­­ciou o rico ciclo do café até a década de 70 e, atualmente, garante os bons resultados da soja. Além disso, ambas culturas foram ou são voltadas para os mercados externos, com alta demanda. Essas duas condições justificam a geração de renda, mas não a sua distribuição. A novidade histórica do Norte paranaense foi a ocupação mais igualitária e planejada das terras.

A colonização da região foi delegada pelo governo estadual, na primeira metade do século 20, à iniciativa privada. O empreendimento mais grandioso foi o da Companhia de Terras do Norte do Paraná (posteriormente rebatizada de Companhia Melhoramentos), de capital britânico. A empresa loteou mais de 500 mil alqueires, abriu estradas, construiu ferrovias e fundou 63 cidades e povoados – incluindo Londrina e Maringá.

O êxito da empreitada está no inteligente modelo adotado, que rompeu com o latifúndio tipicamente brasileiro. Os lotes rurais eram pequenos; variavam entre 5 e 30 alqueires. A compra foi facilitada, com juros baixos. Isso democratizou o acesso à terra, o principal meio de produção da época.

As estradas garantiram o escoamento da produção. E a distância dos lotes rurais em relação a alguma cidade – no máximo 15 quilômetros – aproximou o agricultor dos serviços urbanos. Tudo isso propiciou a formação de uma classe média rural que justifica, hoje, a maior igualdade do Norte.

A saga dos pés-vermelhos merece ser mais estudada. Ela fornece elementos para se pensar num projeto de desenvolvimento do país, tais como o acesso mais democrático aos meios de produção; economia voltada a mercados com grande demanda; aliança do poder público com a iniciativa privada; planejamento; e oferta de infraestrutura urbana e rural.

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