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Como cuidar do todo se só se conhece (ou reconhece) as partes? Essa é a grande questão que se impõe para os desafios ambientais contemporâneos. E a ausência de uma resposta satisfatória provoca uma paralisia que começa em cada cidadão e chega às relações internacionais.

A lógica que está por trás dessa pergunta tem permeado o debate sobre a redução do aquecimento global, por exemplo. Ontem, 120 chefes de Estado se reuniram em Nova York, na Cúpula do Clima da ONU. O objetivo é começar a costurar agora um pacto para conter as emissões de gases causadores do efeito estufa. Mas o acordo só entraria em vigor daqui a seis anos. Desde 1988, as Nações Unidas tentam, sem sucesso, colocar em funcionamento algum mecanismo de controle dos poluentes atmosféricos. O problema é que qualquer medida tem de ser consensual entre os quase 200 países que a compõem. E muitos governos nacionais não reconhecem sua parcela de responsabilidade. Como admitir que o passeio de carro nos Estados Unidos possa ter algo a ver com um tufão nas Filipinas? Trata-se de um desafio planetário, transfronteiriço, mas que está submetido a decisões nacionais – fragmentadas, portanto.

De forma análoga, é o que ocorre com cada pessoa individualmente. Poucos sabem de onde vem a água que bebem, para onde vai o lixo que geram ou como suas atitudes, principalmente como consumidores, afetam o planeta. E muitas vezes desconhecem como isso pode se voltar contra eles, prejudicando-os. Por exemplo: quem come uma picanha em geral não tem a mínima ideia se aquele pedaço de carne veio de um pasto desmatado ilegalmente na Amazônia. Muito menos consegue estabelecer um nexo entre seu almoço e a seca que toma conta do Sudeste do país e que pode deixá-lo sem água para um simples banho. Em tempo: a ciência já demonstrou que a umidade amazônica, que é afetada pelo desmatamento, contribui para o regime de chuvas no Centro-Sul do Brasil.

O mundo contemporâneo ficou complexo e fragmentário. Há 100 anos, a imensa maioria da humanidade vivia no campo, com um grau de isolamento muito grande. E a vida era simples: um agricultor tinha conhecimento de todas as etapas do processo produtivo e um contato direto com a natureza. Sabia quais eram as consequências mais imediatas de suas ações: se sujasse o rio, ficaria sem água para consumir. A urbanização e a especialização do trabalho trouxeram uma série de benefícios, mas quebraram essa relação com o ambiente – o que gerou um distanciamento das relações de causa e efeito. Isso dificulta a tomada de consciência a respeito da responsabilidade ambiental de cada um. E, como são os cidadãos que pressionam os políticos, essa situação tem influência direta na tomada de posição das nações nos fóruns internacionais.

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