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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Li em algum lugar que ir­­mãos e irmãs são as pessoas que passam mais tempo conosco. Veja o raciocínio: os pais nos acompanham do nascimento até a morte deles. Marido e mulher entram na nossa vida na maturidade e, com sor­­te, vão até a velhice. Só os ir­­mãos aparecem na nossa infância (ou já estavam em casa nos esperando na volta da maternidade) e têm chances de ficarem por perto até o fim dos nossos dias. Ou seja, são imbatíveis em termos de quilometragem.

Apesar disso – ou talvez por causa disso – irmãos e irmãs são as grandes vítimas da familiaridade. Eles são "arroz com feijão" na nossa vida. São aquelas figuras que conhecemos desde sempre e que já vimos nas mais diversas situações (muitas delas não muito edificantes) e das quais conhecemos todos os defeitos. Por isso correm o risco de não serem devidamente apreciados. Afinal, eles estão lá, sempre, como a paisagem. E de tempos em tempos ainda fazem coisas que nos enlouquecem.

Pais, mães, avós e amigos fazem parte do cancioneiro popular e são cantados em prosa e versos. Irmãos... Bem, quando a palavra aparece em uma música ou poema geralmente se refere ao amigo que é como se fosse um irmão. Aliás, adoramos falar do amigo que é como um irmão. Mas irmão que é irmão, esse não tem rendido versos inspirados.

Neste momento, o leitor po­­de estar lembrando-se de alguma coisa que seu fratelo fez e es­­tar sentindo uma comichão na mão, uma vontade de estra­­ça­­lhar o jornal. Calma lá! No fundo, no fundo, os irmãos são tão parecidos conosco que – de novo, o efeito "paisagem" – não conseguimos perceber que o que nos irrita profundamente não nos é alheio. Ao contrário, é espelho. Ou não é lá nada de­­mais, mas atinge algum de nossos pontos fracos.

Mais importante, o relacionamento com os irmãos tem vantagens. Eles nos conhecem bem, por isso não precisamos ficar explicando tudo e contextualizando os fatos para que entendam o que estamos vivendo. Também é fácil resgatar com eles histórias de outros tempos, que são importantes para nós e ninguém mais sabe. Ou seja, com eles somos mais inteiros. E eles estão aí para nos ajudar. Irmão que é irmão se preocupa, se interessa. Ao saber de um problema, pensa em uma forma de ajudar, nem que seja telefonando para saber como andam as coisas – o que é uma forma de mostrar apoio.

O único aspecto que lamento no relacionamento com os irmãos é nunca ou quase nunca dizermos coisas bacanas para eles. Aliás, quem é que chega para o irmão ou para a irmã e diz: "Você é uma grande pessoa"? Ou "gosto muito de você"? Desconfio que poucos, pouquíssimos.

Se você chegou até aqui, lembrou-se das patetices que seu irmão ou sua irmã aprontam e mesmo assim não dilacerou esta folha de jornal (nem furou o monitor do computador, onde pode estar me lendo) é porque, no fundo, quer ser convencido de que esse amor vale a pena. Vale, sim. Ter irmão é muito bom.

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