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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Estou desenvolvendo uma teoria que, se bem aplicada, ajudará a desvendar enigmas da natureza hu­­mana. Resu­­miria assim esta mi­­nha contribuição à psicologia: diga-me que cena de filme te fez chorar e te direi quem és.

Chora-se porque a cena é triste ou porque é tocante ou porque toca em algum nervo exposto da nossa sensibilidade. Essa última categoria é muito pessoal. A cena que me faz chorar porque mexe com uma memória profunda passa despercebida pelas pessoas que estão sentadas nas poltronas vizinhas.

As outras duas categorias são mais óbvias: há quem chore com a morte da mãe do Bambi e há quem ignore a cena. Há quem derrube lágrimas furtivas quando James Stewart volta para casa na noite de Natal e é recebido por amigos que vão ajudá-lo a se livrar da bancarrota e há quem só se irrite com o ro­­teiro de A Fe­­lici­­dade Não se Com­­pra (It’s a Wonderful Life, de Frank Ca­­pra) por achá-lo ingênuo demais.

Há quem goste de chorar, há quem fuja do choro e há os durões. Observei esta cena, durante a semana, em uma locadora: diante do acervo de ótima qualidade, um cinéfilo (homem, adulto) para diante da caixinha de Sempre ao seu Lado, que exibe uma foto de Richard Gere com um cão. Olha, lê, revelando interesse, mas confessa que não tem coragem de ver o filme porque gosta muito de cachorros e soube que o filme é triste. Ou seja, tem medo da emoção que pode sentir. Pelo mesmo motivo, não teve coragem de assistir a Marley e Eu. O amigo lhe conta que viu Sempre ao seu Lado exatamente com a intenção de checar se o drama canino o emocionaria. Que nada! Richard Gere e seu amigo fiel não conseguiram arrancar-lhe nem uma lágrima.

Fiz algo parecido com Toy Story 3. Fiquei intrigada quando soube que as pessoas choravam durante a exibição do desenho animado sobre brinquedos que ganham vida quando não têm adulto por perto. Fui ver o filme. O final se aproximava e eu me perguntando: "Eles se emocionaram com o quê?". De repente, o dono dos brin­­quedos entra no quarto vazio que está deixando para trás porque vai para a universidade e abra­­ça a mãe. Pronto. Comecei a chorar e só parei durante os créditos finais. Aliás, para deleite dos meus filhos, que encaram esses meus arroubos de sensibilidade diante da tela como uma graça a mais na ida ao cinema. Parecem achar emocionante ver a mãe se debulhar em lágrimas por situações que não são reais (aliás, um deles sempre me avisa: "Mãe, eles são atores e estão fazendo de conta!").

No caso de Toy Story 3, não precisa ser Freud para explicar minhas lágrimas, não é? Em uma sequência relativamente curta o desenho animado nos presenteia com duas "pauladas" – a despedida entre pais e filhos e a despedida da infância.

Pois o meu colega Cristiano conta que começou a chorar mais cedo, em uma cena em que os brinquedinhos se dão as mãos quando acham que o fim está próximo. Ou seja, o que tocou o Cristiano foi outra coisa. O que comprova a minha teoria de que, se submetermos alguém a uma seleção de uns dez filmes e observarmos suas reações, poderemos traçar um perfil psicológico.

E o que as lágrimas revelam? Sei lá, ainda não terminei de de­­sen­­volver a teoria. Mas, como diria Buzz Lightyear, continuarei trabalhando nela. Ao infinito e além!

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