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O adolescente me fala timidamente sobre seu interesse por uma menina. Posso notar que a rejeição que está sofrendo por parte dela lhe causa sofrimento. Ele acredita que ama e não é amado. Com palavras e vocabulário bem característicos da sua geração, me revela suas dúvidas e surpresas. Como é possível que um sentimento bom seja desperdiçado? Que ela ignore a possibilidade de algo tão especial? Encasquetado com esse mistério do universo, está amuado e pensativo. Nem repara na outra menina que o procura, demonstrando um interesse que ele não parece disposto a registrar.

Passados alguns dias, encontro o garoto na mesma toada e tenho vontade de ajudá-lo a sair dessa obsessão. Desfio todas as frases que se usa em ocasiões assim e que, agora que as escrevo, noto que são tão batidas:

– Parta para outra. Não sofra por isso. Preste atenção nas outras meninas em torno de você. Daqui a pouco você não lembra mais dela.

Claro que ele duvida de mim. Nunca passou por isso antes. Deve estar pensando que esse amor vai durar para sempre.

O que dizer para um menino sobre o amor que começa a se infiltrar na vida dele?

Quero convencê-lo de que o amor é para ser fonte de alegria. Que esses casos em que um quer dar e o outro não faz questão de receber são deturpações, vielas que não levam a lugar nenhum e que devem ser abandonadas logo. Que se alguém te estima muito, é bom prestar atenção nessa estima.

Minhas palavras não soam convincentes para ele, que está na fase das paixões, do narcisismo, do romantismo.

Da minha parte, tampouco quero influenciá-lo demais. É uma grande responsabilidade e não estou segura de que minha influência é totalmente positiva. Que tal se transfiro para ele minhas próprias dúvidas e crises? Quero falar de desprendimento, mas posso inspirá-lo a ser cínico e não é isso que pretendo.

Só quero transmitir a ideia de que há um elemento incontrolável nesse jogo de atrações que traz a Fulana para perto dele e mantém a Sicrana distante, ignorando-o. Não podemos controlar tudo. Isso não é necessariamente ruim – às vezes o imponderável parece nos prejudicar, outras vezes percebemos que estamos sendo abençoados com um encontro especial, que não sabemos explicar.

Quero dizer a ele que desfrute mais e preocupe-se menos.

Mas um menino de 14 anos vai entender alguma coisa dessa minha conversa sobre os imponderáveis da vida? E se entender, vai acreditar? Duvido.

O adolescente segue às vezes amuado, às vezes muito animado. Passa por mim exibindo seu humor inconstante e sua paixão duradoura pela menina que o ignora. Acho que não entendeu nada do que eu disse, mas não é culpa dele. Eu é que, ao tentar poupá-lo de sofrimentos causados pelo coração, estava querendo o impossível.

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