Leões urrando sua solidão na madrugada

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Em oito de maio foi publicado neste espaço um texto em que eu falava de dois livros cujas páginas são cobertas de frases que começam com "eu me lembro...". Um é Me­­­­morando, dos brasileiros Geraldo Mayrink e Fernando Moreira Sal­­­­les. O outro, mais antigo, é I remember, do americano Joe Brainard. Alguns leitores se inspiraram com as memórias divertidas e emotivas desses escritores e me enviaram seus próprios "eu me lembro".

O casal Key Imaguire Junior e Marialba Rocha Gaspar Imaguire me encaminhou pelo Correio (e eu me lembro de quando toda correspondência era entregue pelo carteiro...) um caderno com 134 frases curtas de memória que os dois compilaram, muitas delas ouvidas de amigos. São pequenas preciosidades, que não vou guardar só para mim.

Como tenho de selecionar, aqui vão cinco frases do casal Imaguire:

"Lembra dos leões do Passeio Público, urrando sua solidão na madrugada?

Lembra de umas latas redondas divididas em quatro: marmelada, goiabada, pessegada e bananada?

Lembra de quando as ‘galerias’ eram os shoppings, e na madrugada os boys passavam voando de carro dentro delas, obrigando-as a colocar portões de ferro?

Lembra de quando táxi era ‘carro de praça’ e o motorista era ‘chofer’?

Lembra que toda casa tinha de ter uma Santa Ceia na sala de jantar, um pinguim em cima da geladeira e cortina de plástico?"

A Luciane Jost também registrou algumas lembranças:

"Eu me lembro (e sinto saudades). . .

. . .do domingo de manhã, quando meu pai saía com a gente comprar figurinhas;

. . .do pé de ameixas da minha infância, onde eu construí meu castelo;

. . .da minha primeira caixa de lápis de cor, que tinha 24 cores, inclusive azul piscina – foi o máximo!

. . .do velório do meu avô e de que eu não entendia o que ele estava fazendo deitado lá;

. . .do meu primeiro beijo, quando fiquei três dias sem dormir direito." E o Edson Bindi, lembrando seu tempo de "piá" em União da Vitória:

"Eu me lembro de perguntar, nos domingos: ‘mãe, outra vez polenta com galinha? ’ Não precisa dizer que levei um sonoro pé de ouvido...

Eu me lembro de brincar de roda-cotia (a intenção era que, na hora de abaixar, os meninos vissem os vestidos das meninas levantarem.)"

E a Sabrina Oliveira Garcia:

"Eu me lembro:

... de quando os bairros tinham uma associação de moradores de verdade. No meu, o seu Cassiano promovia campeonatos de futebol, vôlei e brincadeiras todo mês na cancha.

... de quando minha avó dançava com meu avô ao som da minha radiolinha portátil."

E o "eu me lembro" de Ozéias Rebello Costa:

"De nosso grupo de amiguinhos, que aos finais de tarde de verão saía de bicicleta a passear pela cidade."

E do Adriano Gomes:

"... do cheirinho de café recém-passado ao acordar. Do carinho de vó, do cuque de farofa e do pão feito em casa.

... de brincar na rua até tarde e de fazer clubinho com os amigos em cima de uma pitangueira do quintal vizinho." Tem o José Geraldo Jacobiak:

"Lembro que falar francês era chique, que depois saber inglês se tornou fundamental e agora é inteligente aprender a falar chinês."

E, para fechar, a Ghenifer Caroline de Morais:

"Lembro das tardes em que saía da aula e meu pai estava me esperando na porta do colégio, e íamos pescar durante a semana.

Lembro das reuniões de final de ano, com toda a família, tios, primos e afins, que contavam todo ano as mesmas piadas, mas era engraçado mesmo assim.

Eu me lembro da última surra que levei, aos 15 anos. Foi porque saí para andar de bicicleta sem avisar."

Se mais alguém se inspirar e quiser me enviar seus "eu me lembro...", sinta-se à vontade. Marcamos um encontro neste mesmo espaço, daqui a um ano.