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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Schadenfreude é uma palavra alemã que define a alegria ou a satisfação que se sente diante da desgraça alheia. Outros idiomas pegaram Schadenfreude emprestado porque, se a palavra não existe em todos os países, o sentimento existe entre todos os povos. Sentimentozinho sórdido, é verdade. Daqueles que não gostamos de admitir porque sabemos que é mesquinho, cruel até. Não há uma palavra correspondente em português. Não é o mesmo que inveja ou sarcasmo. Schadenfreude é específica: diante de um dano ou prejuízo (Schaden), sente-se alegria, prazer (Freude). Há quem diga que é por isso que as pessoas param para olhar um acidente de trânsito. Haveria aí um contentamento íntimo com a apreciação da desgraça alheia. Me parece que faz sentido pensar que o prazer, no caso dos acidentes, vem do alívio: “Coisas horríveis acontecem, mas estou aqui, intacto”. É mesquinho, mas é humano.

Ao sentir prazer com a desgraça alheia, o sujeito está expressando algum nível de inveja

Gosto da palavra Schadenfreude. Desde que a descobri, de vez em quando, diante de alguma situação, me recordo dela. Às vezes sou eu a alma negra. Dá vergonha se descobrir tão má, mas depois vem o alívio de reconhecer a fraqueza. Às vezes identifico a Schadenfreude alheia. Ao perder o emprego e receber mensagens chorosas de pessoas que mal conheço, suspeitei: parece Schadenfreude disfarçada.

Desconfio que as pessoas mentem para si mesmas em relação a esse sentimento. Não admitem que é isso que estão sentindo. E assim convivem com ele impunemente. Porque assim como a inveja, Schadenfreude é humilhante. Ao sentir prazer com a desgraça alheia, o sujeito está expressando algum nível de inveja. Artistas e milionários são grandes vítimas dessa Schadenfreude universal. Cruel é o prazer que nasce da observação de artistas jovens e ricos mergulhados em vícios, como Amy Winehouse e Lindsay Lohan. O que seria do jornalismo sensacionalista sem essa curiosidade mórbida? E quantas pessoas não devem ter se divertido ao saber que o império de Eike Batista estava indo pelo ralo? Cabe aqui uma interpretação alternativa: em algumas situações, a Schadenfreude é uma expressão de nossa ideia de justiça. “Ele não merecia o que tinha e por isso é justo alegrar-se com o fato de que a farsa acabou.” Ainda assim, soa perverso, eu sei.

O único caso que conheço de alguém que admitiu publicamente este sentimento é o do historiador Peter Gay, que morreu este ano e é autor da biografia mais importante de Freud (Freud, uma vida para nosso tempo). Ele relatou a alegria que sentia a cada derrota de atletas alemães nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Era uma pequena vingança para Gay, judeu alemão que estava sentindo na pele os efeitos das ideias nazistas. “Schadenfreude pode ser uma das grandes alegrias da vida” – escreveu ele em suas memórias.

Por aqui temos um caso gritante de Schadenfreude, que aparece o tempo todo no noticiário. É o rosto do Aécio Neves.

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