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      O curitibano tem fama de macambúzio, principalmente para os adventícios que escolhem esta capital para se fixarem. Leva um tempo enorme até que amizades se consolidem e, assim mesmo, existe uma coisa que a tradição ainda conserva, a privacidade.

      Uma coisa, entretanto, o curitibano sempre teve e faz questão de conservar: o bom humor, assim como saber apreciar as coisas boas, mormente ao que se refere à diversão. Prova disso estava no volume de cinemas que existiam na cidade. Quando o velho Theatro Guayra da Rua Dr. Murici foi desativado no fim da década de 1930, os palcos dos cines-teatro eram ocupados por apresentações de companhias, incluindo o surgimento de um circo fixo que entreteve as plateias da capital por muitos anos. Era o Pavilhão Carlos Gomes, que ficava nas esquinas da Rua Marechal Floriano com a Praça Carlos Gomes.

      Naquele pavilhão se apresentaram, por anos a fio, os irmãos Queirolo, que, fechado o Carlos Gomes, instituíram um circo itinerante diferente. O Circo Irmãos Queirolo não se afastava de Curitiba, suas temporadas eram realizadas variando de um bairro para outro e, diga-se de passagem, sempre agradando ao povão dos arrabaldes escolhidos. Durante décadas divertiram Curitiba.

      O Passeio Público, o primeiro parque de lazer criado em Curitiba, em maio de 1886, sempre teve seus altos e baixos. As retretas apresentadas por bandas militares, aos domingos, no Coreto Mourisco, como era conhecido, alegravam os curitibanos que se dignavam em curtir aquele ambiente. O lago do Passeio era alimentado pelas águas do Rio Belém, em princípio claras, já no inicio da década de 1950 poluídas pelos dejetos químicos lançados em sua nascente no São Lourenço por um curtume de couros. Existia o aluguel de canoas para deslizar sobre suas águas, mas graças ao cheiro de podridão ninguém mais se aventurava a navegar por ali. Somente em meados de 1960 o Rio Belém foi desviado do Passeio Público, que começou a receber água de poços artesianos. Hoje seu lago está poluído por algas.

      O Bar Lá no Pasquale, que funcionou por alguns anos no Passeio Público, principalmente em boa parte das décadas de 1960-70, foi uma grande atração com sua feijoada aos sábados e o aluguel dos pedalinhos. Anexa ao bar, durante a noite, a diversão ficava por conta da Boate Tropical, uma das casas noturnas exploradas por Paulo Wendt, na época conhecido como o rei da noite curitibana.

      A diversão do curitibano comum ficava entre cinemas, circos, parques de diversões, futebol, principalmente os jogos de times conhecidos como de várzea. As tardes dançantes promovidas por centros acadêmicos ou, então, os bailes realizados nas inúmeras sociedades operárias que estavam espalhadas por todos os recantos da Curitiba dos velhos tempos. Já os bailes chiques das sociedades de elite, assim como as domingueiras do Jóquei Clube, não estavam ao alcance do bolso dos cidadãos modestos, principalmente noitadas em casas noturnas.

      Dando uma olhada para aqueles tempos, que muitos gostam de chamar de bons tempos, na maioria das vezes sem nunca terem desfrutado deles, podemos dizer que quem viveu gostou. A falta de locais para a população se divertir, principalmente os jovens, dá chance para que surjam movimentos extravagantes como os atuais rolezinhos que ameaçam a calmaria dos frequentadores dos shoppings, ambientes onde as pessoas tentam se divertir, refugiando-se da falta de segurança que impera por toda parte.

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