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Ando encantado por um aplicativo para ciclistas que mostra por onde você circula, sua velocidade média, tempo e distância percorrida. É sensacional: você liga o celular, acessa o programa sem pagar um centavo, clica no botão “vai lá” e sai pedalando. E os 24 satélites que sustentam o sistema GPS marcam tudo, da jornada de sábado pela estradinha pantaneira do zoológico à desmontada da bicicleta na subida da João Gava, ao lado da Ópera de Arame. No fim do percurso, salgado e torrado pelo sol, você ainda pode publicar o trajeto no Facebook e fazer uma inveja de um segundo e meio aos seus amigos – glória suprema do piá pançudo de 40 anos.

Tão legal quanto usar o programa é descobrir que aplicativos como ele desenham mapas invisíveis e, principalmente, uma nova toponímia da cidade, revelada apenas a seus usuários. A coisa funciona assim: as pessoas acessam o aplicativo, dão nomes e compartilham suas rotas com outros ciclistas. Aos poucos, esses dados se acumulam e viram referência, por exemplo, para usuários que querem comparar seus próprios tempos com o de outros atletas.

Há muitos mapas digitais colaborativos criados pelos usuários

O grande barato fica por conta da irreverência com que muitos trechos são batizados, normalmente com base na dificuldade, nos riscos de trânsito e, principalmente, do estado de conservação da ciclovia. Há trechos com nomes associados a uma geografia de curto espectro, como “Ciclo-Papa” ou “Curva do Passeio”, autoexplicativos para o curitibano médio.

Outros nomes, porém, têm um caráter francamente admonitório: o trecho da Sete de Setembro entre a Carneiro Lobo e a Mario Tourinho, por exemplo, ganhou o apelido digital de “Ciclovia Capeta”; os da detonada ciclovia entre o Parque São Lourenço e o horto da Barreirinha, “Buraqueira sentido Barreirinha” e “Fura Fácil” (com efeito: furei um pneu lá); e o da Fredolin Wolf ao lado do Parque Tingui – subida miserável de um quilômetro de extensão por 60 metros de elevação –, a intraduzível-perfeita alcunha de “Downhill Masterfucker sentido Tingui”.

Há muitos mapas digitais colaborativos criados pelos usuários de outros aplicativos, de compras à observação da paisagem urbana ou pássaros. Há, inclusive, milhares de feudos digitais minúsculos, as redes privadas de wi-fi, com nomes tão engraçados como “Supershaolin” e “Coisinha de Jesus”. Informações que, em sua peculiar localização entre o público e o privado, poderiam interessar imensamente aos sociólogos e aos planejadores da cidade. Mais importante do que isso, só mesmo batizar os trechos – e dar boas risadas com a cidade invisível que emerge dessa peculiar construção.

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