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Uma das maravilhas da Olimpíada é sua capacidade quase instantânea de transformar desconhecedores absolutos em “especialistas” nas mais diversas modalidades desportivas. Um processo indolor, a não ser, talvez, para as esposas, filhos e amigos que estão por perto e precisam ouvir os sofríveis “pareceres de ouro” do recém-revelado expert em badminton, marcha atlética ou pentatlo moderno.

Eu mesmo, confesso, já havia percebido em minha própria pessoa essa curiosa mimese desportiva ao assistir às lutas de sumô transmitidas pelo canal japonês NHK e às disputas de curling na Olimpíada de Inverno na Rússia, em 2014. Pois na manhã do último domingo a tendência voltou, mais exatamente quando pousei no sofá da sala e, enrolado em uma coberta, liguei a tevê em busca de partidas de vôlei ou basquete.

No primeiro canal a aparecer na tela acontecia a rodada preliminar de rotinas livres do nado sincronizado, prova que envolvia 24 duetos. Interesse inicial antropológico, inclusive (como pontuou mordazmente minha esposa ao passar pela sala) pelos cavados maiôs estilo anos oitenta que são o padrão da modalidade.

Pelo sim ou pelo não, arrisco meu palpite “técnico”: medalha de ouro para a Rússia, prata para o Japão e bronze para a Grécia

Curiosidade passageira que deu lugar a um interesse real quando fomos fisgados pela sincronia perfeita de pernas e braços das representantes gregas, Evangelia Papazoglou e Evangelia Platanioti, que brincavam na piscina azul como náiades em férias. Fabuloso, em especial quando considerado (nota: esta foi minha primeira intervenção como “expert” durante a transmissão) o esforço extraordinário de impulsão e equilíbrio que as partes do corpo da atleta que estão dentro da água precisam fazer para que as que estão fora comuniquem leveza e sentimentos.

Duas apresentações mais tarde, já dono de certa intimidade em relação aos “verticais”, “aberturas”, “arcos”, “guindastes” e “cancans” executados pelas atletas (santa Wikipedia), passei a emitir minhas próprias notas. E só parei, mesmo, quando, ao pular do sofá para buscar uma caneca de Nescau, fui alertado pela patroa de que tinha dado uma espadanada no ar a caminho da cozinha. Excesso de animação – ou pura intriga doméstica – que acabou em momento de vergonha alheia própria e análises mais circunspectas.

Hoje, terça-feira, a partir das duas da tarde, acontece a final do nado sincronizado em dueto. Pelo sim ou pelo não, arrisco meu palpite “técnico”: medalha de ouro para a Rússia, prata para o Japão e bronze para a Grécia. E que os deuses olímpicos sorriam para o especialista de última hora.

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