• Carregando...

Crescemos sabendo que a vida é dura e, para vencê-la, devemos trabalhar, ter amigos, respeitar os mais velhos, cumprir nosso papel de cidadãos e, sobretudo, procurar a luz maior que é a Luz Divina. São essas, essencialmente, as regras da vida.

Crescemos também acreditando na vida em comunidade, pois é com ela que compartilhamos nossos momentos de lazer, e é nesse espaço que vivenciamos o amor ao próximo.

Conhecemos uma das comunidades mais antigas da cidade, a Vila Capanema, depois Vila Pinto e agora Vila das Torres, que está passando por grandes dificuldades. Assim como vocês, não consigo achar explicações para alguns fatos.

Primeiro: como é possível uma metralhadora ser entregue a adolescentes de 14, 15, 16 anos? Quem permitiu que a arma fosse parar nas mãos dessas crianças? Até onde sabemos esse tipo de armamento pesado pertence ao Exército. O Exército está descentralizando suas armas? Segundo: de quem é a culpa quando jovens, culpados ou inocentes, morrem alvejados?

Terceiro, quanto aos "excessos" de violência cometido por alguns policiais, pergunta-se: é possível que um tenente ou um coronel não percebam quando um subordinado está quimicamente dependente ou emocionalmente abalado? Quem está doente emocionalmente ou dependente quimicamente precisa de um médico, não pode assumir um trabalho de base como o de policial.

Quarto: quem deve encontrar os "bandidos" é a comunidade? Será que assim não inverteremos os papéis? Será que essa postura não é perigosa? Seria o aluno que ensina o conteúdo programático ao professor? É o paciente que medica o doutor? É a assembléia que prega o sermão ao pastor? A impressão aparente é de que a estrutura reguladora da segurança nas cidades está à espera de um novo regulador.

No Rio de Janeiro surgiram as milícias que apontam "saídas" para buscar a PAZ tão sonhada. Isso está resolvendo o problema? Se a corporação supostamente treinada para resolver esse tipo de conflito demonstra fragilidade para reagir, estaria a população pronta para dar conta do recado? Antigamente os homens das cavernas buscavam seus próprios meios de proteção, de sobrevivência na selva. Mas hoje nós votamos e elegemos um "corpo pensante" esperando que esse seja capaz de apontar, não uma arma, mas saídas para os problemas.

Quinto: mesmo que não seja um dado preciso, acreditamos que nos últimos anos entre 30 e 50 adolescentes foram sumariamente mortos. Mas quem se importa, a não ser a família e a comunidade? Afinal, são bandidos, não é? Também nos perguntamos: se eles tivessem tido melhores oportunidades, teriam destinos diferentes?

Com estas "inquietudes", queremos provocar em você leitor, a oportunidade de se questionar sobre algo que de certa forma atinge ou atingirá a todos nós. O que se espera é que essa comunidade seja alvo da preocupação, não apenas no momento em que passamos perto daquele local e sentimos medo de assaltos, mas que busquemos soluções possíveis e eficazes. As crianças dessa comunidade têm o direito de viver sem medo. Vamos buscar um espaço para a vida e não para a morte.

Ana (nome fictício), moradora da Vila Torres

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]