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Suspeito de ter matado cinco pessoas, Jorge Luiz Thais Martins aguarda em liberdade a conclusão dos inquéritos | Albari Rosa / Agência de Notícias Gazeta do Povo
Suspeito de ter matado cinco pessoas, Jorge Luiz Thais Martins aguarda em liberdade a conclusão dos inquéritos| Foto: Albari Rosa / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Dezenove dias depois de ter sido preso temporariamente, o ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins, foi posto em liberdade, no fim da tarde desta quarta-feira (16). O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) deferiu o habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pela defesa do coronel na terça-feira (15). Martins é suspeito de ter matado nove pessoas e baleado outras cinco, entre agosto de 2010 e janeiro deste ano.

O despacho foi assinado pelo desembargador Campos Marques, que considerou que a manutenção da preventiva implicava no ?constrangimento ilegal? do coronel. No pedido, a defesa argumentou que o ato que determinou a prisão está ?carente de fundamentação? e que não há indícios quanto a autoria dos crimes imputados ao ex-comandante. "A prisão temporária foi precipitada e sem fundamentos. O Tribual também entendeu assim', disse o advogado Elias Matar Assad.

Pontualmente às 18 horas, Martins saiu ao portão do Quartel do Corpo de Bombeiros do bairro Portão, onde estava preso, e por três minutos falou a jornalistas. Com a voz embargada e com um tom entre o rancor e o desabafo, ele agradeceu a família, a Deus, à Justiça e ao Corpo de Bombeiros, instituição a qual esteve ligado por 37 anos. ?Eu sou um homem de bem?, disse.

Para o ex-comandante, a partir de agora se inicia um período de reconstrução. ?É juntar caquinho por caquinho?, resumiu. O coronel voltou a alegar inocência e também se dirigiu à família das vítimas dos crimes dos quais é suspeito. ?Eu tenho certeza que essas pessoas sentiram o que eu senti. Eu não quero isso para ninguém. Eu sofri o que eles estão sofrendo?, desabafou.

Martins deixou o quartel por volta das 18h30, no carro de um dos seus advogados, Silvio Micheletti, que avaliou que o habeas corpus deve dar mais ?tranquilidade? à defesa.

Amigo pessoal de Martins, o comandante do quartel, tenente coronel Luiz Henrique Pombo não escondeu o alívio que sentiu com a liberdade do ex-comandante. ?Dar uma notícia dessas [a Martins] é algo que 32 anos de carreira, como é o meu caso, não pagam", disse.

Advogado questiona investigações

Para o advogado Elias Mattar Assad, responsável pelo pedido de habeas corpus, as investigações apresentam falhas irreparáveis e ?não há condições técnicas para que o MP-PR ofereça denúncia contra o coronel?. Ele atacou a sessão de reconhecimentos feita pela Polícia Civil, nas quais testemunhas e sobreviventes dos crimes apontaram Martins como autor dos crimes. ?A imagem do coronel foi detonada na mídia. Acusação tornada pública para depois se fazer um ato de reconhecimento. Isso tem validade jurídica?, argumentou.

Bombeiro

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Investigações

As investigações sobre os crimes atribuídos ao coronel Martins seguem sob a responsabilidade da Delegacia de Homicídios (DH) de Curitiba. Nesta semana, os policiais militares que fizeram o atendimento a assassinatos atribuídos ao coronel começam a ser ouvidos. De acordo com o delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos, responsável pelo caso, as datas já foram definidas e as oitivas começam na quinta-feira (17). Ao todo, dez PMs devem prestar depoimento.

O delegado explica que a oitiva de policiais é praxe em investigações conduzidas por ele, mas que o procedimento vai representar a oportunidade de elucidar fatos que vieram a tona a partir do depoimento de testemunhas: que PMs teriam recolhido cápsulas de locais de assassinatos dos quais o coronel é suspeito, antes da chegada do Instituto de Criminalística (IC), adulterando a cena do crime. A irregularidade foi apontada por três pessoas ouvidas pela polícia.

?Os locais de crime têm de ser preservados até a chegada da perícia. Se as cápsulas de fato foram retiradas, vamos ter que analisar e avaliar se houve dolo dos policiais em alterar as cenas?, disse o delegado.

A DH aguarda os laudos do IC. Dentre outros elementos, a perícia vai apontar se havia cápsulas nos locais de crime e de que calibre eram. O exame é fundamental para relacionar pericialmente os cinco ataques. Por enquanto, a polícia recebeu a confirmação de que foram encontradas duas cápsulas referentes a um homicídio no dia 14 de janeiro, quando foi assassinado Luiz Rosalino Novalski, de 45 anos.

O caso

O coronel Martins é considerado suspeito de ter cometido cinco ataques, em que nove pessoas morreram e cinco foram baleadas, totalizando 14 vítimas. Os crimes ocorreram entre o dia 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro deste ano. Todos os atentados foram cometidos no bairro Boqueirão, próximo ao local onde o filho de Martins foi assassinado, em outubro de 2009. Os ataques começaram depois que dois usuários de drogas, suspeitos de ter matado o filho do coronel, foram postos em liberdade. Segundo a polícia, nenhuma vítima dos ataques tem qualquer relação com a morte do rapaz.

O ex-comandante dos Bombeiros foi preso no dia 28 de janeiro. Dias depois da prisão, a polícia realizou uma seção de reconhecimento, das quais participaram nove pessoas ? entre sobreviventes e testemunhas. A DH confirmou que houve reconhecimento, mas não divulgou o resultado do procedimento. Fontes ligadas à Polícia Civil ouvidas pela Gazeta do Povo confirmaram que todas as pessoas reconheceram Martins.

A defesa do coronel entrou com um pedido de revogação de prisão, junto a Vara de Inquéritos Policiais. Na semana passada, no entanto, o juiz Pedro Sanson Corat negou a solicitação e Martins permanece preso.

Testemunhas prestaram depoimento à DH e afirmaram que policiais militares que atenderam as ocorrências adulteraram a cena do crime, retirando cápsulas dos projéteis, antes da chegada do Instituto de Criminalística (IC). Ainda na semana passada, pessoas que foram ouvidas pela polícia afirmaram que estão sendo vítimas de ameaças.

Veja o mapa com a localização de cada crime

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