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Vítimas receberam o primeiro atendimento na calçada da Praça Tiradentes. Os casos mais graves exigiram remoção com helicópteros | Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Vítimas receberam o primeiro atendimento na calçada da Praça Tiradentes. Os casos mais graves exigiram remoção com helicópteros| Foto: Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
  • Horas depois do acidente, ônibus foi removido de dentro da loja
  • Edinho: competência no Guaíra
  • Brantes tinha grande gosto pelos livros
  • Veja os nomes de todas as vítimas do acidente

A memória histórica e cultural do Paraná perdeu ontem dois importantes colaboradores, mortos na tragédia da Praça Tiradentes. Edison Pereira da Silva, 56 anos, era responsável pelos registros audiovisuais das produções do Teatro Guaíra, o maior e mais importante do estado. Carlos Alberto Fernandes Brantes, 63 anos, diretor de patrimônio do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, reformulou a pinacoteca da instituição e catalogava os mapas do estado. Ambos passavam pela calçada no momento do acidente. Brantes foi pego pelo ônibus; Silva foi atropelado pelo Peugeot arrastado pelo ônibus.

Edison Silva, ou Edinho, como era conhecido pelos colegas, trabalhava havia 26 anos no Guaíra. Começou como segurança, tornou-se contrarregra, passou pela iluminação, se consagrou na sonoplastia e nos últimos cinco anos atuava como cinegrafista, registrando os bastidores das produções do teatro. "Era um irmãozão, um cara gente boa", resume o coordenador técnico do Guaíra, Cléverson Cavalheiro. Eles trabalharam juntos durante 22 anos. Não havia nada que Edinho não se dispusesse a fazer ou aprender. "Era um cara que sempre quis conhecer coisas diferentes", diz Cléverson. Isso fez dele um profissional diferenciado.

Técnico de múltiplas virtudes, Edinho trabalhou nos bastidores de óperas, balés, musicais, orquestra e peças teatrais. Havia voltado, no sábado, de uma apresentação do Balé Teatro Guaíra em Campo Mourão e, na semana que vem, viajaria novamente com o grupo. Pelo profissionalismo, era motivo de disputa entre o corpo de balé e a Orquestra Sinfônica do Paraná.

Um episódio ocorrido em 2002 no Teatro Alfa, em São Paulo, revela o profissionalismo de Edinho. A equipe do Teatro Guaíra trabalhava na montagem do musical O Grande Circo Místico na capital paulista quando uma lâmpada dicroica estourou na cara de Edinho. Ele tranquilizou os atores que ensaiavam. "Está tudo bem, está tudo bem", disse, ao sair do palco. Não estava: o flash o deixou momentaneamente cego e Edinho só saiu do palco porque sabia o caminho de cor. Nos bastidores, trombou nos refletores e foi ao chão. "Ele não queria atrapalhar nem quando estava mal", diz Cléverson.

Edinho deixa a esposa, Rosi Ma­ri Camargo da Silva; o filho Fa­­brí­cio, 28 anos; e um neto, Gabriel, 2 anos. Gostava de pescar, descer a Serra da Graciosa e preparar churrascos para a família e os amigos.

Outra vítima do acidente, Brantes era bacharel em Admi­nistração e pós-graduado pela Fundação Getulio Vargas. Entre 1984 e 1998 trabalhou em quatro setores do governo do estado, até se aposentar pela Secretaria de Estado da Cultura. Antes disso já havia trabalhado em bancos, em empresas de engenharia e na Assembleia Legislativa do Paraná. Na década de 1990 foi grão-mestre de uma das lojas da Maçonaria em Curitiba. Ele se aposentou, mas não se acomodou. Estava empenhado no resgate histórico e cultural do estado no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

Foi por influência de Brantes que o filho mais velho, Rodrigo, 37 anos, tomou gosto pelos livros e se tornou professor. O pai, lembra Rodrigo, tinha uma biblioteca muito grande e dava o bom exemplo da leitura a ele e ao irmão, Fabrício. Brantes tinha passagem comprada para Rio Negro hoje à noite, onde acompanharia o lançamento de um livro.

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