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Helicóptero da Polícia Rodoviária ajudou nos resgates: uma das vítimas, Carlos Brantes, morreu a caminho do hospital | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Helicóptero da Polícia Rodoviária ajudou nos resgates: uma das vítimas, Carlos Brantes, morreu a caminho do hospital| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Terá sido um mal súbito?

Dois médicos consultados pela reportagem, um neurologista e um clínico-geral, explicam o que significa o termo mal-súbito, uma das possíveis causas do acidente com o ligeirinho.

1 – Não é uma palavra científica, mas popular, e quer dizer qualquer coisa. Uma pessoa pode ter um mal-súbito porque desmaiou, teve alucinações, ataque cardíaco ou simplesmente porque um cisco entrou no olho e ela pode ter ficado com a visão embaralhada por alguns minutos.

2 – Se alguém teve um mal-súbito não quer dizer, necessariamente, que a pessoa desmaiou. E quando acontece o desfalecimento, ele pode ser causado por vários motivos: uma dor forte (como uma cólica intestinal, que pode fazer com que o indivíduo tenha sudorese e perda de consciência), por hipoglicemia (falta de glicose), em decorrência de uma descarga de emoções muito forte ou qualquer outro fator que interfira na circulação do sangue, fazendo com que ele não chegue com força ao cérebro.

3 – Os casos mais graves que também são entendidos como mal-súbito são: problemas cardiológicos (ataque cardíaco, arritmia) e neurológicos (convulsões e epilepsia). Importante lembrar que qualquer situação de desmaio precisa ser investigada.

Fontes: Chien Hsin Fen (neurologista) e Niasy Ramos Filho (clínico-geral).

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Logo após o acidente com o ligeirinho, a primeira suspeita era de que o motorista José Aparecido Alves teria sofrido um mal súbito. A hipótese perdeu força mais tarde, mas casos de estresse e perda da memória são comuns entre motoristas de ônibus de linha. A afirmação é de uma das psicólogas contratadas pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc). Embora problemas psicológicos não tenham afetado José Apare­cido, é cada vez mais comum especialistas ouvirem reclamações destes profissionais. "Alguns chegam a afirmar que, se pudessem, passavam com o ônibus por cima (dos outros carros)", conta a psicóloga Maria da Graça.

De acordo com ela, há casos de motoristas que ultrapassam o sinal vermelho e não percebem. "Há outros momentos em que eles nem se lembram do ocorrido", relata. Em 2007, o próprio Sin­dimoc já alertava para um número preocupante. De acordo com reportagem da Gazeta do Povo na época, pelo menos 8% dos filiados do sindicato estavam de licença médica por causa de distúrbios psicológicos ou psiquiátricos. O dado representava 880 trabalhadores do total de 11 mil filiados da entidade naquele ano.

Entre os principais fatores que levam ao estresse nesta profissão estão o trânsito caótico e até a pouca tolerância das empresas com os atrasos nos itinerários. Segundo Maria da Graça, que atende cerca de 30 motoristas por mês, muitos deles não cuidam da própria saúde como deveriam.

Os primeiros sintomas, conforme a especialista, são irritabilidade e insônia. Na opinião dela, o número de acidentes deveria ser até maior pelos casos ouvidos por ela. "A tendência desses motoristas é o esgotamento". Em maio deste ano, o motorista Ivo Jacinto, 46 anos, que fazia a linha Interbairros II, teve um princípio de enfarte quando dirigia o veículo. Felizmente, ele conseguiu parar em um ponto da Rua Jacarezinho, nas Mercês, e avisar os passageiros que não estava se sentindo bem. Ele foi levado ao hospital e nenhum passageiro se feriu.

A psicóloga Maria de Fátima, que também atende motoristas, acredita que especialistas das empresas deveriam atender com mais frequência os profissionais. "Existem histórias de motoristas que acabam se encostando e nem voltam mais a trabalhar", afirma.

Um ponto negativo no comportamento dos motoristas é a falta de interesse em tratar dos primeiros sintomas. Mesmo quando procuram atendimento, encaminhados pelos médicos, os profissionais não continuam o tratamento.

De acordo com as psicólogas, é importante que eles procurem ajuda médica e psicológica assim que perceberem comportamentos diferentes como insônia e irritabilidade em excesso.

O diretor da Clínica do Sin­­di­­moc, João Carlos da Rosa, explicou que o sindicato tem investido R$ 150 mil por mês em exames mé­­dicos para os filiados. Segundo Ro­­sa, a última consulta médica feita por José Aparecido no sindicato foi em 2006, para tratar de uma unha en­­­­cravada. Na época, Alves era co­­brador. O motorista nunca passou por qualquer tratamento psicológico pelo convênio do Sin­­dimoc. Neste ano, ele procurou a clínica para fazer um tratamento dentário.

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