Deltan Dallagnol palestrou no evento Consciência Cristã e falou sobre ética e combate à corrupção| Foto: Wellington Junior/ Consciência Cristã
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O procurador e chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirmou que o seu propósito maior no combate à cultura da corrupção no Brasil é amenizar o sofrimento humano e não prender pessoas. Dallagnol, que é membro da Igreja Batista do Bacacheri, na capital paranaense, falou a milhares de evangélicos no 22º Consciência Cristã, um dos maiores eventos cristãos da América Latina, em Campina Grande, na Paraíba, sobre ética, enfrentamento à corrupção e o posicionamento do cristão frente a essas questões.

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Na mais recente edição do Índice de Percepção de Corrupção (IPC), o país alcançou a 108º posição - ao lado de nações como Albânia e Argélia. Em 2016, o Fórum Econômico Mundial (FEM) chegou a considerar o Brasil como o 4º mais corrupto do mundo.

"Há sofrimento humano à medida que bilhões são desviados dos cofres públicos anualmente. O que me inspira a lutar contra a corrupção não é prender pessoas, é lutar contra o sofrimento humano que ela causa", disse. "Doenças pela falta de tratamento de esgoto, saneamento básico, longas filas em hospitais, mortes em estradas ruins, desigualdade de oportunidade, educação pobre, falta de segurança pública e tantos outros problemas", afirmou Dallagnol.

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Embora não tenha citado informações específicas sobre a Operação Lava Jato, o procurador indicou comportamentos que os cristãos podem adotar para combater a "cultura da corrupção" instalada no país (leia mais sobre essa questão abaixo).

O procurador falou a milhares de evangélicos na tarde desta sexta-feira (21), em Campina Grande, na Paraíba| Foto: Wellington Junior/ Consciência Cristã

Corrupção é epidêmica

Fundamentado em pesquisas e experiências científicas como o "teste de conformidade" de Solomon Asch, Dallagnol explicou ao público que a corrupção é uma espécie de atitude "epidêmica". Resultados do experimento Asch, por exemplo, revelam como um grupo de pessoas pode influenciar nossas próprias decisões, mesmo quando temos consciência de que se trata de uma decisão errada.

"Somos influenciáveis à desonestidade. Pessoas sob pressão de um grupo afirmam que estão vendo o que elas, na verdade, claramente não estão vendo. Agem de maneira oposta àquilo que elas mesmas acreditam. Essas pressões, podem, inclusive, influenciar crimes graves e danosos", disse. "Muitas coisas erradas são feitas por pessoas normais, sem desvio de personalidade. Somos influenciados por pressões", afirmou o procurador.

Estudos revelam ainda que fatores como a ausência de regras, ambiente de competição excessiva ou humilhação e estabelecimento de metas irrealistas influenciam o comportamento ético das pessoas em direção a ações de corrupção.

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"A Operação Lava Jato fez uma tomografia, um exame de ressonância magnética e expôs as entranhas do mecanismo da corrupção política brasileira. As pessoas se corromperam porque, se não se corrompessem, não estariam mais lá", disse ele, ao referir aos políticos e executivos de organizações investigadas pela operação. “Corrupção não é um problema partidário, é estrutural”.

Segundo o procurador, o combate a medidas dessa natureza faz parte da cosmovisão da fé cristã, já que é coerente com a busca da integridade, a luta pela justiça social e o serviço ao próximo.

Cristãos frente à corrupção

De público majoritariamente cristão evangélico, o evento tem como objetivo promover discussões e orientações aos fiéis sobre temas como corrupção, ética no trabalho, sexualidade e outros.

Uma das indicações práticas dada por Dallagnol ao público, por exemplo, é a criação de uma cultura que incentive a honestidade e o comportamento ético dentro das organizações religiosas. Ele sugeriu aos pastores a criação de mecanismos como a prestação de contas e transparência de gastos e receitas em suas igrejas.

Embora tenha defendido que essa não é uma causa exclusivamente religiosa, "tem tudo a ver com o que os cristãos acreditam".

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"O cristão é um agente de transformação da sociedade. Por isso, é preciso sofrer junto com as pessoas que sofrem pelo descaso no serviço público por conta de desvios de dinheiro".

Para o procurador, "lutar contra a corrupção é uma questão de compaixão, de amor ao próximo, de serviço à sociedade e de realização de direitos humanos. Tem tudo a ver com a parábola do bom samaritano".