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Carceragem destruída na delegacia de Santo Antônio da Platina: presos continuarão lá, mesmo em condições precárias | Marco Martins/Gazeta do Povo
Carceragem destruída na delegacia de Santo Antônio da Platina: presos continuarão lá, mesmo em condições precárias| Foto: Marco Martins/Gazeta do Povo

Para agentes, governo "dirigiu" inquérito

O Sindicato dos Agentes Peniten­ciários do Paraná (Sindarspen) suspeita que o inquérito instaurado para apurar as causas da rebelião na Penitenciária Central do Estado (PCE) não seja isento. O motim, ocorrido nos dias 14 e 15 de janeiro, durou 18 horas e deixou sete presos mortos.

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Detentos vão ficar em celas destruídas

Pelo menos 22 dos 118 presos que se rebelaram entre domingo e segunda-feira na carceragem da 38.ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Santo Antônio da Platina, no Norte Pioneiro, vão continuar ocupando as 12 celas da unidade policial – mesmo após o local ter sido completamente destruído. Esses detentos aguardam a revisão dos seus processos para serem transferidos para penitenciárias estaduais.

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Superlotação Rebelião anunciada desde 2009

Com 118 presos em um espaço onde cabem apenas 32, a rebelião no interior da carceragem de Santo Antônio da Platina era apenas uma questão de tempo. Em dezembro, um motim organizado dentro da cadeia, depois que um preso se suicidou, evidenciou a situação. Os detentos reclamavam que muitos já tinham cumprido toda a sua pena na delegacia, mas mesmo assim continuavam atrás das grades.

No local também havia casos de presos detidos em flagrante há mais de dois anos, mas os inquéritos sobre os crimes jamais foram concluídos e nem sequer foram enviados ao Ministério Públicos Estadual ou à Justiça.

A situação ficou mais delicada em janeiro, quando um surto de gripe suína foi registrado na cadeia. Uma ala inteira da carceragem teve de ser isolada para evitar a proliferação do doença. Sem saída, o delegado Júlio César de Souza, titular da delegacia, proibiu as visitas, decisão que despertou a ira dos detentos que a todo momento ameaçavam promover um novo motim.

  • Confira o número de presos no Paraná e no Brasil

O Paraná deve ser um dos grandes desafios para que se possa atingir a meta de zerar o número de presos em delegacias do país. Hoje, o estado mantém 48% de seus detentos em celas da Polícia Civil – proporção muito maior do que a média nacional, que fica em torno de 14%.O Programa Preso Zero, que prevê o fim da manutenção de presos em delegacias do país, foi anunciado nesta semana pelo ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mendes passou os últimos dois dias no Rio de Janeiro e em Vitória, no Espírito Santo, discutindo a implantação do projeto.

Para Mendes, é necessário ampliar o número de vagas em carceragens e casas de custódia para abrir espaço nas delegacias. No entanto, no Paraná, mesmo com o aumento do número de vagas do sistema penitenciário – entre 2003 e 2009, o estado mais do que dobrou a capacidade de absorção de detentos –, a proporção se manteve. Em junho de 2009, dos 27,2 mil detentos do Paraná, 13,1 mil estavam em delegacias. Em 2006, 8,7 mil dos 18,1 mil estavam encarcerados em distritos policiais. O índice do Brasil é de 14%: 60,2 mil dos quase 450 mil estão em delegacias.

OAB

A transferência de detentos para penitenciárias é reivindicação antiga da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Paraná (OAB-PR). Doutor em Direito Penal e secretário-geral da OAB-PR, Juliano Breda afirma que os encarcerados condenados que permanecem em delegacias deixam de ser beneficiados pela Lei de Execução Penal. "Dessa forma, a possibilidade de que o preso possa encontrar meios de reinserção na sociedade diminui", avalia. Conforme Breda, ou­­tra forma de acabar com o inchaço das delegacias é o investimento em penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade. "A restrição de liberdade deve ser reservada aos casos necessários", diz.

Professor de Direito Penal da Universidade Positivo (UP), Alessandro Silverio elogia a iniciativa de Mendes, mas defende que a ideia pode esbarrar na falta de dinheiro. "Não acredito que os estados tenham recursos suficientes para implantar essa política, mesmo que haja subsídio do governo federal. Já não existem verbas para investir em educação, quanto mais no sistema penitenciário", opina. Silverio entende que é preciso criar outros mecanismos para enfrentar a criminalidade, além do Direito Penal. "Se enfrentarem a criminalidade apenas dessa maneira, os estados sempre estarão atrasados", diz.

As visões são semelhantes à do governador Roberto Requião (PMDB). Durante a Escola de Go­­verno de ontem, Requião afirmou que as soluções para as delegacias e penitenciárias são complexas. "Hoje, a Polícia do Paraná funciona bem, o Poder Judiciário condena com mão um pouco pesada demais, a meu ver, sob o pânico gerado na sociedade pela pressão da mídia. Assim, pequenos crimes geram condenações de prisão, que superlotam o sistema penitenciário", diz. "O sistema penal brasileiro chegou à exaustão. A saída me parece ser a aplicação de penas alternativas, com liberdade vigiada", completou.

Mutirão

Entre 22 de fevereiro e 14 de maio deste ano, o CNJ vai realizar no Paraná um mutirão carcerário, com o intuito de reexaminar todos os processos criminais, de provisórios e condenados, e verificar a situação de algumas das penitenciárias e das delegacias. Com isso, presos com direito à progressão ao regime semi-aberto ou à liberdade possam ter o direito legitimado. Além do governo do estado e do CNJ, o movimento vai contar com a participação da Defensoria Pública do Paraná, do Tribunal de Justiça e da Ordem dos Advogados do Brasil.

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