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Em Curitiba, casos de estupro quadruplicaram | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Em Curitiba, casos de estupro quadruplicaram| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Nucria já registrou 127 denúncias estupros na capital em 2014

Até o final de abril, o Nú­­cleo de Repressão a Crimes Contra Criança e Adolescente de Curitiba (Nucria), braço da Polícia Civil, registrou 127 denúncias de estupros contra jovens com menos de 18 anos na capital. A informação foi revelada pela própria delegada do Nucria, Luciana de Novaes. Esses casos têm preocupado a delegada, que ressalta que a polícia tem trabalhado para conter esses crimes.

"A gente faz um trabalho preventivo, conversando nas escolas, nas áreas mais carentes atendidas pelas Unidades Paraná Seguro (UPS)", explica. De acordo com Luciana, há um plano estratégico sendo desenvolvido com a comunidade nessas regiões. O Nucria participa do projeto Paraná em Ação com um estande de esclarecimentos à população.

Atualmente, há um Nucria em Curitiba e outro em Foz do Iguaçu. Segundo Luciana, o estado estuda um projeto para ampliação do Nucria para outras cidades, como Paranaguá, Ponta Grossa, Londrina, Maringá e Cascavel. O Nucria investiga hoje 1.663 inquéritos e são abertos, em média, 70 por mês.

O órgão também recebe denúncias de casos de exploração sexual, que podem ser enviadas para o e-mail nucria@pc.pr.gov.br ou feitas pelos telefones (41) 3270-3370, disque 100 ou 181.

Fique alerta

O Nucria pede para que as famílias fiquem atentas a alguns sinais apresentados por crianças e adolescentes que podem indicar uma violação de direito. Uma dica é manter conversa aberta com a escola e ficar atento a esses fatores:

• Mudança comportamental das crianças. Elas tendem a "se fechar", ficarem mais quietas do que o normal, quando são vítimas;

• Sinais de agressões, como lesões e hematomas;

• Depressão e sinais de emagrecimento.

1.221 casos de lesão corporal contra crianças e adolescentes foram registrados no Paraná em 2013. Isso indica que por dia, três jovens de até 17 anos foram agredidos no estado. O número é o maior registrado nos últimos anos. Entre 2010 e o ano passado, houve um crescimento de 18% nos casos de agressão no estado. No mesmo período em Curitiba, o número de registros dobrou.

Uma criança ou adolescente foi estuprada a cada três dias no Paraná em 2013. Foram 125 casos. O dado faz parte de um levantamento feito pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) a pedido da reportagem da Gazeta do Povo. O total de vítimas no ano passado é mais que o dobro do registrado em 2010. Nos dois primeiros meses deste ano, 20 crianças e adolescentes foram estupradas no estado. Hoje, 18 de maio, é o Dia Nacional de Luta contra o Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

INFOGRÁFICO: Confira os números dos principais crimes contra crianças e adolescentes no Paraná e em Curitiba

O avanço desses crimes aponta para incapacidade da sociedade, de uma forma geral, em colocar a infância como prioridade e garantir que seus direitos não sejam violados, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) há quase 24 anos. "Está havendo uma falha no sistema de garantia de direitos, na rede de proteção, que engloba escola, famílias, estado, município", alerta a presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da seção paranaense da OAB, Maria Christina dos Santos.

Essas falhas citadas pela advogada alcançam, principalmente, a articulação do poder público em capacitar a rede de proteção e mobilizar a sociedade civil para que seja parte cada vez mais ativa dela. "Tem de haver mais comunicação entre órgãos que implementam políticas públicas", comenta Maria Christina, que aposta no fortalecimento da rede como solução.

Para a advogada, uma cidade do porte de Curitiba tem um número insuficiente de conselhos tutelares. "Hoje temos nove conselhos na capital, quando o Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – estabelece que preferencialmente haja um para cada 100 mil habitantes. Como pode aumentar tanto o porcentual de estupro? É ausência do Estado", critica. Os conselhos têm a responsabilidade de indicar ao município quais são as demandas para criação de política pública. Atualmente, crianças e adolescentes vítimas são atendidas nos nove Centro de Referências Especializados de Assistência Social (Creas).

Para uma conselheira tutelar de Curitiba, que preferiu não se identificar, não há política pública suficiente nos municípios que atendam crianças e adolescentes carentes que necessitam de atividades do contraturno escolar, como o antigo Criança Quer Futuro.

Ao Deus dará

"Falta atendimento e os adolescentes acabam ficando ao Deus dará", afirma. Por isso, segundo ela, há casos em que são aliciados por traficantes e acabam alvos fáceis, com familiares ausentes. "Mas nos casos de agressão e estupro, a maior parte desses crimes é cometido por familiares. É preciso um trabalho de conscientização muito forte com famílias", explica, ressaltando que há crianças vítimas em todas as classes sociais.

Estado destinou R$ 14 milhões a conselhos tutelares

A Secretaria da Família e Desenvolvimento Social do Paraná (Seds) destinou, desde 2011, R$ 14 milhões para melhoria de estrutura, atendimento e capacitação dos conselheiros tutelares no estado. Hoje há cerca de 2 mil conselheiros tutelares no estado e pelo menos 10 mil profissionais que trabalham com garantias de direitos.

Em nota, a Pasta afirma que já foram investidos mais de R$ 105 milhões em três anos para ações dirigidas ao fortalecimento da rede de proteção à criança e ao adolescente. O estado conta com 696 unidades, entre Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializada de Assistência Social (Creas), para atender esse público. Além disso, há 23 Centros da Juventude, espaços destinados à convivência comunitária, que oferecem, em tempo integral, atividades de lazer, esportivas, culturais e qualificação profissional para adolescentes maiores de 14 anos.

Na capital, a Fundação de Ação Social (FAS) tem descentralizado o atendimento especializado às vítimas pelos Creas. De acordo com a FAS, em 2013, os Creas realizaram 291 atendimentos de casos de abuso sexual e 30 de exploração sexual. Neste ano, até março, já foram atendidos 30 casos de abuso e seis de exploração.

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