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Cartaxo: em entrevista, delegado defendeu seu trabalho afirmando que reconhecimento por parte da vítima tem o mesmo valor que o exame de balística | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Cartaxo: em entrevista, delegado defendeu seu trabalho afirmando que reconhecimento por parte da vítima tem o mesmo valor que o exame de balística| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Acusado tenta se matar antes de confessar

O vigia Paulo Delci Unfried tentou se enforcar na cadeia de Matinhos pouco antes de confessar a autoria do crime do Morro do Boi, no qual Osíris Del Corso foi morto e Monik Pegorari Lima sofreu violência sexual. Unfried tem 32 anos, é casado, tem um filho e mora a 300 metros do local do crime, ocorrido em 31 de janeiro. Ele vive de bicos como pedreiro, carpinteiro e eletricista. Unfried responde a inquérito por homicídio culposo, por ter atropelado e matado um motociclista, e já havia sido preso por porte ilegal de arma há dois anos.

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MP pede nova reconstituição

Por meio de petição protocolada ontem no Juízo Criminal de Matinhos, o Ministério Público expôs vários itens necessários para esclarecer o caso em virtude do surgimento do novo suspeito do crime. As promotoras de Justiça Carolina Dias Aidar de Oliveira e Fernanda Maria Motta Ribas defendem que Unfried seja submetido a exame de corpo de delito, para uma posterior acareação com Monik. Elas pedem, ainda, que seja juntado aos autos o laudo pericial de confronto de balística entre a arma encontrada com Unfried e os projéteis retirados do corpo de Osíris, além da reconstituição do crime segundo a versão do novo acusado.

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Relembre o caso do Morro do Boi

O crime

- Os estudantes Monik Pegorari, de 23 anos, e Osíris Del Corso, 22, foram baleados no dia 31 de janeiro no Morro do Boi, na praia de Caiobá, em Matinhos. Monik ficou 18 horas no local do crime até ser resgatada pela polícia. Ela teria sido vítima de estupro. Osíris morreu na hora.

A primeira prisão

- No dia 17 de fevereiro, Juarez Ferreira Pinto, de 42 anos, foi detido pela polícia no balneário de Santa Terezinha, em Pontal do Paraná, com base em retrato falado feito com informações da vítima. Juarez alegou inocência desde o princípio.

Mudança de versão

- Quatro dias depois da prisão, a polícia mudou a versão. Em vez de homicídio, Juarez teria praticado um latrocínio (roubo seguido de morte). A afirmação da polícia se baseou em supostos R$ 90 que teriam desaparecido da roupa de Monik. O próprio delegado Luiz Alberto Cartaxo havia dito dias antes que nada havia sido roubado. Também houve um recuo na questão do suposto estupro que a jovem teria sido vítima. Na segunda versão, houve apenas atentado violento ao pudor, quando não há conjunção carnal.

Caso encerrado

- No dia 26 de fevereiro, a polícia anunciou o encerramento do caso e o indiciamento de Juarez. E revelou que duas provas apresentadas pela defesa haviam sido adulteradas: um caderno com anotações sobre a movimentação do caixa da empresa onde Juarez trabalhava e uma folha solta de papel, onde era controlada a quantidade de carrinhos de chope que saíam para a praia – Juarez trabalhava limpando os carrinhos. As datas dos dois documentos estavam rasuradas.

Nova prisão

- No dia 25 de junho, Paulo Delci Unfried foi preso por invadir uma casa e violentar uma mulher, em Matinhos. Ele confessou ter matado Osíris e baleado Monik. Com ele havia duas armas e o exame de balística confirmou que o tiro que matou o estudante partiu de uma delas.

Desmentido

- Em acareação com Monik e Juarez, Paulo Unfried voltou atrás e disse que foi forçado a confessar.

Soltura

– Na noite de 31 de julho, por falta de provas, a Justiça mandou soltar Paulo Unfried.

Uma confissão e um exame de balística provocaram nova reviravolta na investigação do crime do Morro do Boi e colocaram em xeque a versão da polícia para o caso. Paulo Delci Unfried, preso na quarta-feira passada, depois invadir uma casa e violentar uma mulher no balneário de Betaras, em Matinhos, no Litoral do estado, confessou ontem ter matado o estudante Osíris Del Corso e balear a namorada dele, Monik Pergorari Lima, no dia 31 de janeiro. O exame de balística feito no revólver 38 encontrado com Unfried confirmou que a arma é a mesma usada no crime.

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As informações foram divulgadas oficialmente em entrevista coletiva concedida ontem pelo delegado responsável pelas investigações, Luiz Alberto Cartaxo, e pelo delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto. Durante uma hora, aproximadamente, Cartaxo tentou explicar porque, mesmo sem qualquer prova material, Juarez Ferreira Pinto, que era apontado como o "monstro do Morro do Boi", está preso desde o dia 17 de fevereiro e chegou a passar, inclusive, pela audiência de instrução e julgamento no último dia 16 – na ocasião, Juarez só não foi julgado porque faltaram os depoimentos de seis testemunhas.

Cartaxo foi incisivo, ontem, em dizer que a polícia não errou ao indiciar Juarez, mesmo ele tendo sido acusado apenas com base no reconhecimento da vítima Monik. "O conjunto probatório contra Juarez era forte. Qualquer um no meu lugar faria o mesmo. Além disso, a polícia indiciou, o Ministério Público (MP) denunciou e o Judiciário aceitou a denúncia. O álibi dele era fraco", defendeu-se o delegado. Embora Unfried passe a figurar como suspeito do caso do Morro do Boi, Cartaxo não descartou a possibilidade de que o verdadeiro autor do crime possa ser mesmo Juarez.

"O Ministério Público pediu novas diligências. Se a Justiça acatar o pedido cumpriremos a ordem. Será o conjunto de provas que dirá quem é o autor do crime. A prova testemunhal contra Juarez não é mais fraca que a prova balística da arma encontrada com Paulo (Unfried)", disse Cartaxo. De acordo com o delegado, no fim de semana, uma foto de Unfried foi mostrada, informalmente, a Monik, mas ela não reconheceu o novo suspeito.

A reportagem falou no início da noite de ontem com o pai de Monik, o advogado Lourival Pergorari de Lima. De Brasília, onde está para acompanhar Monik no tratamento que ela fará no hospital Sarah Kubitschek, ele confirmou que a filha não reconheceu Unfried e que ela vai manter o depoimento. "Monik não tem dúvida em relação ao Juarez. Nós achamos, apenas, que a polícia vai ter mais um trabalho de investigação pela frente para descobrir quem passou a arma para essa rapaz (Unfried) e porque ele está assumindo esse crime. Digo, como pai e advogado, que essa reviravolta é parte da estratégia da defesa", opinou.

De acordo com Cartaxo, a arma que foi usada no crime do Morro do Boi e foi encontrada com Unfried foi adquirida regularmente em Cascavel, no interior do estado. Depois disso, passou pela mão de mais três pessoas antes de chegar até Unfried. Segundo o delegado, todas essas pessoas foram ouvidas e a última confirmou que vendeu a arma para Unfried, no início de janeiro deste ano.

Com base no resultado do exame de balística na arma encontrada com Unfried e na confissão dele, os advogados de defesa de Juarez entraram ontem com um pedido de revogação da prisão preventiva de seu cliente. A expectativa dos defensores é que a Justiça atenda o requirimento e que Juarez seja solto hoje. Os advogados pretendem reunir-se então com a família de Juarez para estudar um pedido de indenização contra o Estado.

Segundo os advogados, o estigma de Juarez, pelo fato de ser ex-presidiário, pode ter contribuído para que ele tenha sido acusado pela polícia neste caso. Além disso, de acordo com eles, na época do crime, a polícia estava sendo cobrada pela opinião pública para dar uma solução ao caso da menina Rachel, cujo corpo foi encontrado dentro de uma mala na Rodoferroviária de Curitiba, em novembro do ano passado.

Mário Lúcio Filho, um dos advogados de Juarez, lembrou ainda que Monik pode ter se confundido ao fazer o reconhecimento de seu cliente. De acordo com o psicólogo forense Rodrigo Soares Santos, mesmo sem querer é comum vítimas criarem falsas memórias. "A forma como o reconhecimento de Juarez foi feito pode ter sugestionado Monik a criar falsas memórias", diz.

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