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| Foto: Albari Rosa/gazeta do povo

O conselho revelador veio de um tio, então com 80 anos: “Cative autoridades e faça amigos”. Ela seguiu à risca, acrescentando à fórmula alguns quitutes de primeira. É assim que Maria Vilma Paolini, 74, faz política há 53 anos. Moradora da Caximba desde quando ninguém falava em ações colaborativas e empreendedorismo social, ela luta contra os estigmas do local que carrega a alcunha de “bairro do lixão” – o Aterro Sanitário de Curitiba permaneceu instalado na região por 21 anos – e ainda carece de asfalto, saneamento e equipamentos de saúde e educação.

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O comprometimento com a Caximba é tradição familiar inaugurada pelo sogro de Vilma, Dino Paolini, já falecido. Quando chegou lá, em 1922, Dino constatou que as crianças da comunidade não podiam estudar – escolas do centro não eram uma possibilidade e no bairro não havia uma sala de aula que fosse. Não se fez de rogado: convocou a prefeitura, ofereceu do próprio bolso terreno e hospedagem para as professoras e conseguiu a primeira escolinha para os caximbenses. Ao virar Paolini, Vilma também aderiu à “causa da Caximba”.

Junto de Ubaldo, um senhor esguio de 84 anos, 55 de casamento, parceiro de maquinações e maior incentivador, ela fez história no bairro. É lendário o lanchinho servido religiosamente aos trabalhadores que, duas vezes por mês, chegam com o ônibus de frutas e verduras que faz as vezes de feira para os moradores. O cardápio varia: pastéis, tortas salgadas, um bolinho de fubá. Um capricho feito há 15 anos.

Mas é à frente da Associação dos Moradores e Amigos da Caximba que, desde 2000, Vilma se envolve mais diretamente com conquistas importantes para a comunidade, como a inauguração do posto de saúde, do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e da Escola Municipal Joana Raksa – ápice de sua atuação como líder comunitária, em 2005.

De lá para cá, a Caximba cresceu. O bairro concentra loteamentos irregulares, os moradores hoje somam cerca de 18 mil pessoas, mais da metade precariamente acomodada em ocupações sem água e luz. A expansão rápida, conta, pegou a Caximba desprevenida: a estrutura não comporta a demanda por saúde e educação e, principalmente, emprego. Diante dos novos problemas, a senhora de cabelos branquíssimos e fala rápida não esmorece. Ao contrário, ambiciona novas soluções: um Armazém da Família, mais uma creche e ampliação do posto de saúde, pavimentação também não pode faltar, elenca, enquanto sonha a “Caximba de dona Vilma”.

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