• Carregando...
Os detentos subiram no telhado do 11º DP pelo sistema de ventilação da carceragem e fugiram pelos fundos com a ajuda de uma “teresa” – corda feita com panos amarrados | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Os detentos subiram no telhado do 11º DP pelo sistema de ventilação da carceragem e fugiram pelos fundos com a ajuda de uma “teresa” – corda feita com panos amarrados| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Presos estão incomunicáveis

Com a destruição das oito celas da carceragem na última rebelião, no dia 10 de janeiro, as visitas e os banhos de sol – direitos assegurados por lei aos detentos – estão proibidos no 11º DP, o que aumenta a insatisfação dos presos e deixa as famílias aflitas. A família de Ricardo Silveira de Souza, 23 anos – um dos 27 fugitivos de ontem –, nunca mais o viu desde a prisão, no dia 31 de dezembro, por tráfico de drogas. Ao procurar a delegacia, afirma a mãe do rapaz, a auxiliar-administrativa Cleusa Maria Silveira de Souza, 42 anos, a resposta dos policiais era de que as visitas só seriam liberadas após a transferência dos presos.

Leia a matéria completa

Policiais civis se recusam a receber documento de interdição

Desde março de 2008, a carceragem do 11º Distrito Policial está interditada pela Vigilância Sanitária por falta de condições de higiene. Tal situação já foi informada à Justiça pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba.

Leia a matéria completa

Barril de pólvora

Confira o histórico de problemas no 11º Distrito Policial de Curitiba nos últimos dois anos:

13 nov 2007 – O investigador Dirceu Antônio Zorek morre baleado no portão do distrito durante o plantão da noite ao atender um casal que solicitava ajuda.

31 jan 2008 – Com diarreia, vômito e febre, o detento Leandro Alves Sampaio morre a caminho do hospital. A Vigilância Sanitária interdita a carceragem. Com 150 presos em um espaço para 40, a cadeia não tinha ventilação, facilitando a proliferação de doenças.

31 mar 2008 – Mesmo com a instalação de exaustores para ventilar a carceragem, o distrito volta a ser interditado pela Vigilância Sanitária.

10 jan 2009 – Presos rendem um dos policiais de plantão com um estoque, quando a comida era entregue na carceragem. Para conter a rebelião, os policiais atiram contra os detentos. O preso José Gonçalves de Lima Sobrinho morre e outros três ficam feridos. A carceragem é destruída. Após a rebelião, cerca de 60 presos são transferidos para o Centro de Triagem II, em Piraquara.

16 jan 2009 – O juiz Juan Daniel Pereira Sobreiro, da Vara de Inquéritos Policiais, determina a remoção imediata dos presos do 11º DP para que a carceragem seja reformada. Até ontem, a decisão não foi cumprida.

22 abri 2009 – Por um buraco no teto, 27 dos 148 detentos fogem da carceragem do 11º DP. Até o fechamento desta edição, apenas dois haviam sido recapturados.

Superlotado e com a carceragem completamente destruída, o 11º Distrito Policial (11º DP), na Cidade Industrial de Curitiba, foi palco ontem da fuga de 27 detentos. Mesmo interditada desde 2008 pela Vigilância Sanitária e desde janeiro pela Justiça (leia texto abaixo), a delegacia tinha no momento da fuga 148 detentos, quase quatro vezes mais do que a capacidade de 40 presos.

Os detentos fugiram por um buraco no teto, feito no sistema de ventilação da carceragem. Após subirem no telhado, eles desceram pelos fundos da delegacia com uma "teresa" – corda feita com panos amarrados. Os três policiais de plantão só descobriram a fuga por volta das 6h30, quando alguns detentos desceram do telhado na parte da frente do distrito. Imediatamente, os policiais entraram em ação e impediram que outros fugissem. Até o fechamento desta edição, apenas dois fugitivos haviam sido recapturados.

Desde a última rebelião, no dia 10 de janeiro, quando um detento morreu e três ficaram feridos, a carceragem do 11º DP está completamente destruída. Isso levou o juiz substituto Juan Daniel Pereira Sobreiro, da Vara de Inquéritos Policiais, a determinar a remoção imediata de todos os presos, o que não foi cumprido pelo governo do estado. Sem grades nas celas, os presos ficam soltos na carceragem, com apenas duas portas para mantê-los detidos.

Críticas

Com tal quadro, informa a secretária da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Isabel Kugler Mendes, desde a rebelião os policiais não têm acesso à carceragem – a menos que peçam reforço ao Batalhão de Choque da Polícia Militar ou ao Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) da Polícia Civil. "Eles não conseguem nem tirar um detento para conversar com o advogado, cujo atendimento é feito por uma janelinha da carceragem. Fazer revistas então é impossível sem apoio", afirma a advogada. Os detentos estariam organizados e criaram uma nova facção criminosa.

Para o presidente da seção paranaense da Ordem, Alberto de Paula Machado, a situação do 11º DP expõe toda a fragilidade das cadeias no estado. "Os problemas nas delegacias vêm sendo denunciados constantemente. Mas a omissão do governo persiste."

O delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azôr Pinto, nega que os policiais não tenham acesso à carceragem. "Há constantemente bate-grade (revista) na carceragem. O reforço só é solicitado quando há tumulto", afirma. Sobre a superlotação, o delegado-geral disse que a questão é reflexo da atuação da polícia. "Nunca houve tanta gente sendo presa. Como não há outro lugar, os presos acabam ficando nas delegacias até o julgamento. Precisamos de mais penitenciárias", admite Azôr. De acordo com o delegado da Divisão Policial da Capital, Valter Barutt, em média são feitas 50 prisões por semana em Curitiba e região metropolitana (RMC).

Celas modulares

O problema da superlotação nas delegacias da capital e RMC poderia ter sido parcialmente solucionado se o governo tivesse cumprido a promessa de entregar esse mês 60 celas modulares no Centro de Triagem II, em Piraquara. Feitas de concreto, o que impede escavações, as 60 celas abrigarão 720 detentos.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop), o mau tempo no começo do ano atrasou o cronograma da obra em 30 dias, mas na próxima semana a empreiteira contratada começa a entregar as celas. Das 60 que já deveriam estar em funcionamento, apenas 20 estão em fase de conclusão. "Assim que a primeira ala for inaugurada, começaremos a transferência e isso já aliviará a situação das delegacias", aponta Azôr. Para julho, está programada a entrega de mais 60 celas distribuídas em Araucária, Colombo e Rio Branco do Sul. Segundo a Seop, a licitação para essas obras está em fase inicial.

Machado afirma que se até o fim de abril as 60 primeiras celas não estiverem concluídas, a entidade vai cobrar um posicionamento da Secretaria da Segurança Pública. "Apenas 20 celas não são suficientes. Precisamos de ações mais concretas para solucionar o problema da superlotação", argumenta.

* * * * *

Interatividade

O governo tem sido omisso em manter a superlotação de presos nas delegacias?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou deixe seu comentário abaixo

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]