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Cidade hexagonal proposta por arquiteto para integrar fronteira entre México e os EUA | Fernando Romero Enterprise/Divulgação
Cidade hexagonal proposta por arquiteto para integrar fronteira entre México e os EUA| Foto: Fernando Romero Enterprise/Divulgação

A construção de um muro que separa os Estados Unidos do México é uma das propostas mais polêmicas na campanha de Donald Trump à presidência dos EUA. Ele não está sozinho neste sentimento anti-imigração. Documentário indicado ao Oscar deste ano (“Cartel Land”) mostra uma milícia de pessoas comuns que se armam para impedir a entrada de mexicanos no país vizinho. Mas esta não é a única obra proposta para a região. O arquiteto Fernando Romero quer construir uma “Cidade de Fronteira” (tradução literal de “Border City”) na divisa entre os dois países norte-americanos.

O plano é construir uma cidade binacional na fronteira entre os estados do Novo México e Texas, nos EUA, e Chihuahua, no México. São regiões hoje inabitadas, e os terrenos são de proprietários privados. O projeto foi apresentado como a iniciativa mexicana na primeira Bienal de Design de Londres, que tem “utopia” como tema (em homenagem aos 500 anos do livro homônimo, de Thomas More).

Mas Romero e seu escritório FR-EE levaram a ideia a sério, e estão, inclusive, em contato com os donos dos três terrenos, segundo informações da revista de arquitetura Dezeen. Os encontros seriam para acertar os últimos detalhes e tirar o projeto do papel na próxima década. Iniciada a obra, a previsão é de que fique pronta em 12 anos (são três fases de quatro anos cada).

A cidade foi pensada para harmonizar bairros hexagonais. Cada um com um epicentro para reunir serviços médicos, comércios e atividades industriais. Avenidas se irradiam destes centros, conectando as zonas vizinhas entre si. O princípio é de uma cidade bem planejada, boa para se viver.

E que propicie boas trocas econômicas, o que ajudaria a dirimir a noção de que a parceria entre os dois países é prejudicial ao comércio, na avaliação de Romero. A parceria com os EUA poderia tornar o México mais competitivo. Hoje, o estado de Chihuahua já conta com uma fábrica da Foxconn, que produz produtos para a Apple.

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O arquiteto vê a fronteira entre os dois países como um limite “muito primitivo”. “Opera de forma muito eficiente do norte para o sul, Estados Unidos para o México, porque ninguém ali impede os carros e o trânsito, mas no sentido oposto é muito ineficiente”, disse, em entrevista à Dezeen.

O problema é que a utopia (no sentido popular que a palavra ganhou, de algo impossível de ser alcançado) vai além de uma cidade bem planejada e harmônica, do ponto de vista econômico. A construção de cidades do zero é um conceito bastante criticado, analisando o âmbito cultural.

“Nos dias atuais, já se percebe que a criação de uma cidade não deve partir do zero, tendo em vista a importância das relações que nela devem se estabelecer, e a dificuldade de se criar relações, inicialmente artificiais, que terão que se tornar naturais, reais”, explica a arquiteta Karla Barros Coelho, professora da Ulbra e estudiosa do urbanismo em áreas de fronteira.

Além disso, a fronteira de Estados Unidos e México já é recheada de cidades binacionais, sob o ponto de vista de integração entre os povos, avalia a geógrafa Rosa Moura, pesquisadora do Observatório das Metrópoles e do Ipea. “Essas aglomerações [que já existem] são exatamente ‘cidades unidas’, que se não fosse o controle americano já teriam rompido completamente o conceito de ‘fronteira’”.

O fenômeno não é restrito ao norte do continente. Há uma série de cidades fronteiriças “com muita interação entre os povos, mas pouca integração entre os países”, nota Moura, que atualmente trabalha no projeto Fronteiras, do Ipea em parceria com o Ministério da Integração, que mapeou todos os arranjos fronteiriços entre o Brasil e outros países da América do Sul.

Isso torna a da Border City nada surpreendente e até ineficaz, opina a geógrafa. “Não serão cidades construídas que conterão a xenofobia, o controle sobre pobres que buscam oportunidades em países vizinhos. Tampouco controles exacerbados como o norte-americano darão conta do tráfico de drogas, armas e pessoas”.

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