Sistema de compartilhamento Vélib, em Paris. Foto de fevereiro de 2015.| Foto: /Christ0pheri/Creative Commons

O trecho tem pouco mais de 800 metros de comprimento e pode ser percorrido em 4 minutos, mas representa um primeiro passo importante do grande plano de Paris para baixar as emissões de gases de efeito estufa e promover a saúde de seus residentes: a construção de 45 quilômetros de vias totalmente dedicadas à bicicleta até 2020. Essas vias têm o objetivo de incentivar o uso da bicicleta não só em pequenos deslocamentos centrais, mas também em trechos mais longos, entre bairros da capital francesa, já que cruzarão a cidade de norte a sul e de leste a oeste. Além disso, são um empurrão para quem ainda não experimentou a bicicleta como modal de deslocamento diário por medo de andar lado a lado com veículos automotores. O trecho em questão fica no Boulevard Bourbon, na margem do canal artificial Arsenal, entre a Praça da Bastilha e o Rio Sena.

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Ainda no ano passado a cidade escolheu, por meio de uma votação pública, investir 150 milhões de euros (cerca de R$ 538,2 milhões) na melhoria e expansão de sua estrutura cicloviária, incluindo o Réseau express vélo (REVe) – um plano para uma malha expressa para bicicletas cuja sigla também significa “sonho” em francês.

As metas da ideia são ambiciosas. Em 2014, apenas 5% dos deslocamentos diários verificados em Paris, cerca de 225 mil, eram feitos de bicicleta. A intenção é fazer com que essa proporção suba cada vez mais, chegando pelo menos a 15% e ajudando a derrubar a média de 15,5 milhões de viagens de carro feitas todos os dias na capital francesa, número este verificado em 2012. Em termos de comparação, o site especializado em cidades CityLab cita que Copenhague e Amsterdã registram, em média, 55% e 43%, respectivamente, de deslocamentos diários feitos de bicicletas.

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Os primeiros 800 metros de vias dedicadas à bicicleta ficam no Boulevard Bourbon, na margem do canal artificial Arsenal, entre a Praça da Bastilha e o Rio Sena. 

Dos 225 mil deslocamentos diários de bicicleta feitos em Paris hoje, um terço é pelo Vélib, o sistema de compartilhamento de bicicletas da cidade, criado em 2007 (veja como funciona ele no vídeo). Dentro do REVe, a meta é que em 2020 o sistema esteja respondendo por pelo menos 35% dos 15% de deslocamentos diários que os parisienses deverão fazer de bicicleta todos os dias.

No total, o plano de Paris é aumentar o total de vias cicláveis dos 700 quilômetros atuais para 1,4 mil quilômetros até 2020. A inspiração veio de experiências de lugares como Dinamarca, Holanda e Bélgica, onde a cultura da bicicleta está mais avançada, e mesmo de países em que a aposta no modal também promete ser forte nos próximos anos, como o Futuro das Cidades já mostrou com as cicloestradas da Noruega.

Infraestrutura ou cultura: o que vem primeiro?

Em março deste ano, Milão anunciou que, para entrar no “Plano Bici” de investimento de 35 milhões de euros do governo italiano em ciclomobilidade, estaria disposta até a pagar os cidadãos para usar a bicicleta – uma espécie de incentivo financeiro para o uso do modal. O valor máximo ao mês chegaria a 50 euros por cidadão. Mas este dinheiro não seria melhor investido em ciclovias e ciclofaixas? Para especialistas em ciclomobilidade, não é assim tão simples determinar qual investimento deve vir primeiro – em infraestrutura ou em mudanças culturais.

Saiba mais

Veja em detalhes do plano cicloviário de Paris neste material preparado pela prefeitura da cidade.

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No Japão, por exemplo, há poucas ciclovias, mas uma cultura de respeito no trânsito. Em Paris mesmo, o Vélib surgiu em 2007 como forma de incentivar o uso dos 271 quilômetros de ciclovias que tinham sido construídos desde 2001 pelo prefeito Bertrand Delanoë. À época, descobriu-se que a malha não era usada porque as pessoas tinham medo de ter a bicicleta roubada durante o trajeto. E se o equipamento fosse de todo mundo? Assim nasceu o Vélib, considerado protótipo para o o modelo de aluguel de bicicletas adotado no mundo todo, segundo informações do relatório “Bike-share Planning Guide”, do Institute for Transportation & Development Policy (ITDP), de Nova York.

Veja como funciona o sistema de compartilhamento Vélib e outras dicas de como usar as bicicletas em Paris neste vídeo em oficial em português: