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Após completar nesta terça dois anos do sumiço de Amarildo de Souza, os índices de segurança divulgados no primeiro semestre de 2015 mostram que pouca coisa mudou na busca por desaparecidos no Estado do Rio. Os números em casos de auto de resistência e desaparecimento estão estáveis nos últimos anos e ajudam a explicar o porquê do inquérito contra o morador da Rocinha ainda não ter sido finalizado. Para comentar o assunto, especialistas em direitos humanos e membros da família do pedreiro realizaram nesta manhã uma mesa de debate no EMERJ, no Centro do Rio, a fim de cobrar explicações do poder público frente os desmandos da polícia.

O GLOBO mostrou na edição desta terça-feira (14) que testemunhas do caso, após prestarem depoimentos incriminando o Major da PM Edson Santos, não foram mais vistas na comunidade da Rocinha. No entanto, a esposa de Amarildo, Elizabete Silva, afirmou que não ficará intimidada com eventuais ameaças e não irá se calar enquanto o corpo do ex-marido não for encontrado. “Nós estamos nos manifestando porque o medo faz você calar a boca. Como posso explicar pros meus filhos o que aconteceu com o pai deles se ainda não temos uma resposta?”, questiona.

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que nos anos seguintes à instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o número de desaparecimentos cresceu. Entre os meses de janeiro e junho deste ano foram 3.187 casos, contra 2.279 no mesmo período em 2008, ano de implantação das UPPs. No primeiro semestre de 2013, ano em que Amarildo foi visto pela última vez, 3.202 casos foram computados.

Um dos presentes na mesa, o presidente do Fórum Permanente de Sociologia Jurídica da EMERJ, o juiz João Batista Damasceno, comentou que esses dados servem para comprovar como a política de segurança política adotada no Rio de Janeiro fracassou. “Tanta violência mostra que o Rio de Janeiro não pode servir de escola para outros estados da federação”, comentou o juiz, em relação ao programa de UPPs.

O índice dos autos de resistência também não é nada animador. Apesar da queda de aproximadamente 50% nos três primeiros anos após a implantação das UPPs, os anos seguintes apresentaram uma nova alta. Entre janeiro e junho deste ano já houveram 347 casos, 60 a mais se comparado ao mesmo período do ano passado.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, o Deputado Marcelo Freixo (PSOL) ponderou que o caso do pedreiro na Rocinha foi uma exceção por ter ganhado a repercussão e a cobra o mesmo empenho para outros desaparecidos. “Por acaso, a tragédia que aconteceu com o Amarildo ocorreu no período dos protestos em 2013. As taxas de investigações policiais concluídas ainda mantêm-se em níveis históricos baixíssimos”, analisa.

Procurada, a Secretaria de Segurança do Estado não retornou o contato ao GLOBO até o fechamento da matéria.

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