Líder Gerson Waraiwe e outros membros da terra indígena Sangradouro em Mato Grosso no ato em Brasília.| Foto: Ana Carolina Curvello/ Gazeta do Povo
Ouça este conteúdo

Indígenas de várias etnias do Brasil se juntaram às manifestações em Brasília por mais transparência nas eleições e contra decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os protestos ocorrem em vários estados brasileiros, desde o final da apuração do segundo turno das eleições.

CARREGANDO :)

"Um grupo de Rondônia veio com 35 caravanas e, fora as mistas que vieram por conta própria, tem mais de 25 etnias espalhadas por aqui, e não têm data para ir embora", disse ontem um dos índios que estava na Esplanada dos Ministérios.

>> Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram

Publicidade

Além de mostrar indignação contra o resultado das urnas e a corrupção no país, os indígenas, que fazem vídeos e postam nas redes sociais, questionam os bloqueios nas plataformas impostos pelo ministro Alexandre de Moraes contra alguns apoiadores de Bolsonaro.

"Alexandre de Moraes tem tanto poder dos demais órgãos, inclusive em cima das Forças Armadas. Nós, indígenas, sempre falamos que tem uma força por baixo dele que o sustenta, tem alguma coisa e uma hora vai ser descoberto a força que ele tem", disse um dos indígenas de uma etnia de Rondônia que preferiu não se identificar.

O líder xavante Gerson Waraiwe, da terra indígena Sangradouro em Mato Grosso, mostrou que os indígenas estão conscientizados, sabem o que está ocorrendo com o cenário político, especialmente com as medidas consideradas abusivas, praticadas pelo Judiciário. "Esse ato reflete a nossa indignação perante ao STF e o TSE, alguns ministros se colocaram como pessoas constituintes e isso nos revoltou bastante. A justiça se impôs e está tentando ser um Supremo autoritário, tanto é que tá censurando quem fala mal deles, e eles ainda debocham de nós no exterior", disse.

Indígenas se reúnem em frente ao Congresso Nacional - Foto: Ana Carolina Curvello

Operação Lava Jato

Com placas dizendo "O BRASIL FOI ROUBADO" e cobrando urnas auditáveis, os indígenas mostraram ainda a sua revolta com a corrupção dos governos petistas. Waraiwe enalteceu a operação Lava Jato, que prendeu políticos e executivos e recuperou mais de R$ 4 bilhões em 5 anos. Segundo ele, a operação inspirou a acreditar em um Brasil melhor.

Publicidade

"Quando avançou a Lava Jato, tínhamos certeza que o Brasil iria pra melhor. O trabalho que a Lava Jato expôs nos fez entender como é importante a participação popular e dos indígenas nesse manifesto", disse.

Para Waraiwe, é difícil considerar a eleição de um "descondenado", que agora está rodeado de outros políticos envolvidos em casos de corrupção. O líder indígena teme inclusive o aumento da violência e os assaltos nas aldeias com a eleição de Lula.

"Eu trabalhei pra comprar um notebook e um celular para o meu filho e o que os bandidos fizeram? Roubaram o meu filho na faculdade e simplesmente levaram. O ex-presidiário agora tá falando que quem rouba celular é pra se sustentar. Tem muito trabalho, mas os bandidos passam fome porque não querem trabalhar, temos que conscientizar e orientar os políticos", explicou.

Índios no exterior e ONGs

Waraiwe também criticou os indígenas que viajam ao exterior para reclamar do Brasil. "Tem umas meia dúzia de indígenas que vai no exterior reclamar do Brasil dizendo que os indígenas estão sendo massacrados e sendo refém, isso é mentira e falácia deles", criticou.

Outra crítica feita pelo líder xavante foi em relação às ONGs que atuam em defesa do meio ambiente e dos povos indígenas. "As ONGs recebem do exterior, são financiadas por países ricos e não precisam trabalhar, mas quem realmente preserva a natureza, vive bem? Recebem benefício? Quem dirige as ONGs se beneficiam na miserabilidade das pessoas", disse o xavante.

Publicidade

Para Waraiwe, os índios querem viver em condições favoráveis nas aldeias, com a garantia de um futuro melhor para as próximas gerações. "Como produtor nós queremos produzir também, e temos o desejo de acompanhar a modernidade e darmos dignidade para as nossas comunidades", concluiu.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]