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Ouça a entrevista com o diretor da Polícia Científica, Leon Grupenmacher |
Ouça a entrevista com o diretor da Polícia Científica, Leon Grupenmacher| Foto:

Perícia considera que o local do crime não foi comprometido

Apesar de Tayná ter sido encontrada morta três dias depois do desaparecimento, o diretor-geral da Polícia Científica, Leon Grupenmacher, garante que a perícia encontrou condições ideais para colher indícios. "A Polícia Militar isolou a área assim que o corpo foi encontrado. A cena do crime não foi comprometida", avalia.

Grupenmacher descarta a necessidade de se exumar o corpo da adolescente para obter alguma informação adicional. "O tempo que os peritos tiveram com o cadáver foi suficiente para tirar conclusões sólidas, não deixamos dúvidas quando um laudo é finalizado", garantiu.

A relevância da perícia para o rumo do caso Tayná é uma exceção. Conforme levantamento da Gazeta do Povo, apenas 19% dos homicídios analisados pela reportagem, cometidos entre 2010 e 2013, tiveram prova pericial para ajudar nas investigações. Nas demais ocorrências, a polícia se baseou quase exclusivamente em depoimentos de testemunhas.

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De acordo com um laudo do Instituto de Criminalística do Paraná, a adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, encontrada morta no dia 28 de junho, não foi violentada. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (7) pelo próprio diretor-geral do órgão, Leon Grupenmacher, em entrevista a jornalistas.

Segundo ele, a violência sexual está tecnicamente descartada. "Do ponto de vista de violência sexual física, aparente, pelo que eu vi [do laudo], não houve. Eu não participei da necropsia, mas aparentemente não houve [violência sexual]", revelou.

Grupenmacher não quis dar mais detalhes sobre o exame, porque o caso segue em segredo de Justiça. Segundo ele, o fato de o corpo de Tayná ter sido encontrado parcialmente submerso não comprometeu os exames, mas dificultou o trabalho da perícia.

"Como a garota foi encontrada mais de 24 horas depois de ter sido morta, poderíamos ter alguma dificuldade em isolar possíveis espermatozoides no corpo e nas roupas, para análise. Mas a perícia conseguiu isolar, portanto não há dúvidas quanto a isso", declarou o diretor. Está confirmado, segundo ele, que não havia sêmen em nenhuma parte do corpo de Tayná, apenas nas roupas íntimas.

Os indícios levantados por parte da perícia não devem sofrer nenhuma grande mudança nos próximos dias, mas ainda não estão totalmente concluídos. A Criminalística ainda vai finalizar a análise do absorvente que Tayná usava, além de concluir alguns exames de DNA de possíveis envolvidos no caso.

Perícia levantou contradições do caso

O rumo das investigações da morte de Tayná começou a mudar justamente a partir de uma declaração por parte da criminalística. No dia 2 de julho, uma semana após o desaparecimento da jovem, os quatro suspeitos iniciais já estavam presos e já haviam confessado o crime. Nesta data, contudo, a perita Jussara Joeckel, do IML, afirmou pela primeira vez que Tayná poderia não ter sido violentada, contrariando a tese inicial dos investigadores.

Apesar da revelação, a Polícia Civil finalizou o inquérito no dia 5 daquele mês, reforçando a primeira teoria: que os quatro rapazes teriam de fato estuprado e estrangulado a garota. No dia 12, no entanto, o resultado de exame de DNA indicou que o sêmen encontrado na calcinha da garota não é compatível com o material genético de nenhum dos quatro acusados.

Grupenmacher explica, no entanto, que não se pode determinar inocência ou culpa de nenhuma pessoa apenas com as provas periciais. Não cabe à criminalística, segundo ele, afirmar se houve ou não abuso sexual. Hipóteses como a garota ter praticado o ato consensualmente pouco antes de morrer, ou ter sido forçada sob ameaça (o que não deixaria rastros de agressão no corpo) não são descartados pela criminalística. "A perícia meramente assegura que não houve violência sexual", explica.

Entenda o caso

A adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, desapareceu no dia 25 de junho quando voltava da casa de uma amiga, nas proximidades de um parque de diversões, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da menina foi encontrado no dia 28 de junho. Três dos quatro suspeitos, presos no dia anterior, confessaram ter estuprado e matado a jovem, mas um deles não teria participado diretamente do crime. No mesmo dia, o parque de diversões foi depredado e incendiado por moradores da região.

As suspeitas de que não teria havido abuso sexual, além da confirmação de que o sêmen na calcinha de Tayná não pertencia a nenhum dos quatro acusados, gerou uma mudança no comando da investigação policial do crime. Desde a conclusão do inquérito pela delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, o caso já contava com a participação do Ministério Público. O laudo também motivou uma visita da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR aos suspeitos, que relatavam que foram torturados pela polícia para confessar os crimes.

No dia 12 de julho, o MP afirmou que os indícios coletados relacionam os suspeitos presos ao crime. Mas, no dia 14 de julho, o promotor Paulo de Lima se manifestou em sentido contrário, afirmando que as provas presentes no inquérito não sustentam uma denúncia e pedindo a soltura dos suspeitos pelo crime. Nesse meio tempo, o até então advogado de defesa dos suspeitos presos, Roberto Rolim de Moura Junior, foi destituído, sendo substituído por Andrey Salmazo Poubel.

No dia 15 de julho, o ex-defensor afirmou que foi hostilizado durante o depoimento de seus então clientes na Sesp. No mesmo dia, durante a tarde, os quatro presos foram soltos e levados a um pouso provisório pelo Gaeco. Também no dia 15, foi feito o pedido de prisão preventiva de 15 policiais denunciados por supostas torturas ocorridas nas apurações da morte da adolescente.

Em 15 de julho, os quatro suspeitos foram incluídos no programa de proteção a testemunhas. No mesmo dia, 12, dos 14 que tiveram prisão decretada no suposto caso de tortura, foram detidos (a maior parte deles se entregou espontaneamente. O delegado Silvan Pereira, considerado foragido, foi detido no dia 19 de julho.

Diante das suspeitas de tortura, o Gaeco formalizou, no dia 1 de agosto, denúncia a 21 pessoas que teriam participado ou se omitido na suposta coação aos quatro rapazes.

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