Doença é transmitida pelo mosquito palha, que é menor que o Aedes aegypti, transmissor da dengue.| Foto: James Gathany/Div

De cada sete cães de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, um está infectado pelo Leishmania infantum, agente causador da leishmaniose visceral. A doença, que é transmitida pela picada do mosquito-palha (espécie um pouco menor que o Aedes aegypti, vetor da dengue) tem alta taxa de mortalidade nos animais e também pode ser contraída pelos seres humanos.

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Descoberta

Em 1912, o brasileiro Gaspar Viana teve uma contribuição importante para o tratamento dos diversos tipos de leishmaniose. Ele foi responsável pela descoberta da ação curativa do tártaro emético, componente ativo até hoje usado nos medicamentos utilizados contra a doença.

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O Paraná registrou em 2012 o primeiro caso autóctone (quando a doença é transmitida no local e não trazida por uma pessoa que viajou a outra região). “O vetor se adaptou à Região Sul devido às mudanças climáticas recentes, o que explica a ausência em décadas passadas”, alerta Vanete Thomaz Soccol, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora de um estudo encomendado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

A pesquisa pioneira – desenvolvida em parceria pela Secretaria Estadual da Saúde com a UFPR e especialistas de outras universidades –tem como objetivo mapear os casos da doença na região da Tríplice Fronteira – Foz, Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina).

Doença pode ficar mascarada em regiões não endêmicas

Em regiões em que a doença não é endêmica, os casos de leishmaniose visceral podem passar despercebidos, pois apresentam semelhanças com outras enfermidades. Os principais sintomas são: febre irregular e prolongada, indisposição, anemia, palidez nas mucosas, falta de apetite e perda rápida de peso. A doença compromete o funcionamento da medula óssea, do fígado e do baço. Os cães contaminados apresentam perda de peso, apatia, crescimento exagerado da unha, pele espessa com descamação, problemas oculares, diarreia, sangramento e artrose. Até pouco tempo atrás, era conhecida por ser uma doença presente apenas nas classes baixas da população e em regiões afastadas. O cenário mudou e nos últimos anos foram registrados casos em regiões urbanizadas de capitais como Belo Horizonte e Campo Grande. “Quem sabe agora as multinacionais passem a se interessar e encontrar medicamentos menos tóxicos para humanos e também efetivos para cães”, avalia a professora da UFPR, Vanete Thomaz Soccol.

A solicitação da pesquisa surgiu de um alerta da OPAS sobre as possíveis migrações do vetor. Na Argentina, o primeiro caso da doença em humanos foi registrado em 2008 e depois epidemias se alastraram por todo o país. No mesmo período, houve registros no Paraguai e recentemente uma criança de dois anos morreu no país após sintomas da doença.

“Como a região do extremo-oeste do Paraná faz fronteira com esses países, era provável a existência do vetor e então passou a ser considerada uma área de risco”, destaca a pesquisadora. Parte do estudo é financiada por um instituto canadense de pesquisa.

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Profissionais da saúde fizeram trabalho de campo em todos os bairros de Foz, com a coleta de amostras de sangue dos cães e a instalação de 130 armadilhas para a captura de insetos. Os resultados até agora são alarmantes: além da vasta contaminação em cães (taxa de 14,6%, com 104 casos positivos entre as 710 amostras), a presença do mosquito transmissor foi identificada em todas as regiões da cidade. A taxa de cães infectados no lado argentino da fronteira é ainda mais preocupante: 28%. No Paraguai, 8%.

Nos três países serão adotadas medidas de controle. Em agosto, o grupo se reúne para definir quando as ações serão executadas e como serão financiadas. “Também estamos fazendo o levantamento sazonal do vetor para saber qual a época de maior densidade”, completa Soccol. O governo do estado também atua para organizar uma rede de retaguarda para o atendimento de pacientes que eventualmente sejam infectados pela leishmaniose visceral.