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A notícia esquisita vem da Alemanha. Idosos alemães que não podem viver sozinhos e não conseguem bancar as despesas em suas cidades estão indo viver em casas de repouso na Hungria, República Tcheca, Grécia e até Tailândia. Sozinhos, longe da família. A estrutura para atendê-los está disponível na Alemanha, mas o preço é alto demais. Resultado: os práticos alemães estão fazendo "oma export". É uma saída, mas não um motivo de orgulho. Aliás, não fui eu que inventei a expressão "oma export" (exportação de vovós). Foi um jornalista alemão, furioso com o fato de os idosos serem obrigados a sair do país em busca de atendimento.

O mundo é muito estranho, leitor. E a "oma export" é sintoma. Eu me pergunto se adianta um país ficar tão rico quanto a Alemanha e não conseguir cuidar de seus velhos. Alguma coisa está fora da ordem, como diria o Caetano Veloso. Caetano que, aliás, é filho de dona Canô, que viveu até os 105 anos em sua Santo Amaro da Purificação, onde nasceu. Sorte dela que não precisou ser exportada.

Os velhos vão dominar o mundo pela força da demografia, da medicina que nos mantém vivos por mais tempo. Serão tantos que será impossível fingir que eles não têm importância. Pena que o mundo ainda não saiba o que fazer com eles.

Você pode deduzir que fui inspirada a falar dos idosos porque mais um ano está acabando e isso provoca essas reflexões sobre o tempo que passa, sobre o que será de nós. Pois não foi isso. Acordei pensando neles depois de ver o filme brasileiro Doce de Mãe, que a Globo exibiu na quinta-feira. Ele conta a história de uma viúva de 86 anos que fica sozinha em casa depois que a empregada de muitos anos vai embora. Os quatro filhos se reúnem para decidir o que fazer. Tiram a sorte (ficar com a mãe é sorte ou azar?) e partem para algumas tentativas de contornar a situação, todas com efeitos desastrosos e cômicos.

A patetice dos filhos que não sabem o que fazer para ajudar a mãe é engraçada e fica melhor ainda porque dona Picucha é vivida por Fernanda Montenegro, que dá um show como a octogenária inteligente e desencanada, que só quer apreciar os prazeres que lhe restam. Gargalhei com algumas cenas – se você perdeu o filme, tomara que tenha uma nova oportunidade de vê-lo.

Sutilmente o filme evidencia uma situação que todo idoso ou pessoa que convive com idosos percebe: muito do que dona Picucha diz ou faz é inteligente, original, admirável até. Mas, como ela é idosa, logo os interlocutores duvidam de sua sanidade mental. A boutade que na boca de um jovem soa inteligente e divertida, na boca da velhinha é sinal de senilidade, tamanho é o medo que todos têm de que ela esteja "esclerosada". Dona Picucha finge que não nota os temores dos filhos e vai encontrando formas de permanecer em casa e de cometer suas loucurinhas.

Certa está ela. Qual a graça de ter uma vida longa sem nunca perder o juízo?

Aos leitores, um ótimo 2013!

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