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Algumas leis parecem inaplicáveis. Como multar um pedestre que atravessa fora da faixa ou, pior, fura o sinal? Meia hora no centro de qualquer grande cidade deixaria louco qualquer fiscal de trânsito, correndo atrás da multidão. A dificuldade de se aplicar uma norma, porém, é só uma desculpa preguiçosa e que muitas vezes permeia o discurso de quem passa as férias na Europa e acha que a civilidade cai do céu. Não cai.

Para quem não acredita em multas a pedestres, gosto de contar como era o sinaleiro em frente à universidade da cidade onde morei na Alemanha. Uma rua mais ou menos movimentada, em um cruzamento com sinal para carros, pedestres, trem e bicicleta. A espera era longa, mas isso não estimulava os pedestres apressadinhos a atravessar no sinal vermelho. Lá existe multa para quem comete esse deslize. Paga na hora. O mesmo vale para ciclistas – um colega foi advertido ao atravessar uma rua fora da ciclofaixa e só não levou multa porque o policial achou suficiente cinco minutos de bronca em alto e bom alemão.

Saindo da Alemanha nas férias de fim de ano, dei bobeira. Fomos eu e três colegas para Praga, na República Tcheca, onde chegamos à noite. Cansados, saímos do estacionamento e atravessamos a rua – na faixa, mas com o sinal vermelho para pedestres aceso. Nada mais natural para quatro brasileiros andando à noite em uma rua deserta. Do outro lado, dois policiais faziam a ronda, atrás de criminosos como nós. Pagamos uma multa pequena (em dinheiro, na hora) e levamos uma lição de moral em alemão macarrônico.

Podemos até dar crédito a outros argumentos contra a aplicação de algumas leis – como a clássica (e muito discutível) ideia de que a polícia tem de ir atrás de bandidos e não incomodar o cidadão de bem que deu uma escorregada. Mas fazer isso tem uma consequência sobre o ambiente onde vivemos. Quer um carro parando na faixa de pedestres? Vá passar férias no Japão.

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