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Transportes

Museu Ferroviário de Atibaia é fechado

Turistas podiam passear na ferrovia construída especialmente para o museu | Rogério Roberto
Turistas podiam passear na ferrovia construída especialmente para o museu (Foto: Rogério Roberto)

São Paulo - Um dos principais pontos de turismo da cidade de Atibaia (SP), o Museu Ferroviário, fe­­chou oficialmente no início deste mês. Ele foi fundado em 1986 e recebia cerca de 501 mil visitantes mensalmente. As duas locomotivas, o bonde, os quatro vagões de passageiros, os dormitórios, os vagões-restaurante e o de correio, todos construídos entre 1893 e 1927, estão imóveis, guardados em um galpão, agora esperando novo destino – o leilão começou no dia 27 de novembro.

Além da desativação do equipamento cultural, o fechamento representa o fim do sonho do empresário que tentou reconstruir, em seu quintal, parte do patrimônio ferroviário paulista. Por 23 anos, o museu particular funcionou na chácara do empresário José Augusto Roberto, 66 anos, a 200 metros de onde passava a antiga Estrada de Ferro Bragantina (EFB), importante via de escoamento de açúcar e tabaco, desativada em 1967. No museu havia restaurante e lanchonete – em dois vagões adaptados –, área expositiva com acervo fotográfico, utensílios de cozinha e banheiro, lustres, porcelanas e picotadores de bilhetes, entre outras 500 peças ligadas às linhas férreas paulistas, originais das companhias ferroviárias Soroca­­bana, Paulista, Bragantina e Mogiana.

Para abrigar o museu, Ro­­berto construiu a própria estação – a Estação Atibaia, como a chamou, recriada exatamente como as estações de Caetetuba e Maracanã, localizadas nos extremos do município, que receberam trens da Bragantina entre 1884 e 1967. "Tive o sonho de construir minha própria ferrovia, exatamente como eram as de antigamente, e mostrá-la a todos. É um sonho que agora termina", disse Roberto, recostado em um dos pinheiros que plantou às margens da ferrovia, uma linha férrea de 2,6 quilômetros que ele construiu para passeios dentro da área do museu, com projeto de engenheiros da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa).

Para construir a sede, a ferrovia e para restaurar os trens, o empresário investiu R$ 20 milhões. Na empreitada, vendeu parte significativa de seu patrimônio: quatro fazendas com 3,5 mil cabeças de gado no Tocantins, um dos prédios de sua empresa na capital, além de uma usina de beneficiamento de borracha, ven­­dida no fim da década de 1980. Na última sexta-feira, 4 dos 11 lotes de material ferroviário, avaliados em R$ 5,8 milhões, foram vendidos. Do material arrematado, sabe-se que os va­­gões-restaurante devem ir para Ca­­çapava: serão usados na criação de uma área de alimentação te­­mática. Quanto à locomotiva, que fez seu último passeio na manhã de 28 de novembro, e um dos vagões de passageiros – além dos trilhos –, também vendidos, ainda não se sabe o que será feito deles.

A segunda fase do leilão será em 29 de janeiro do ano que vem – até lá, segundo o empresário, turistas que quiserem conhecer o museu serão recebidos. Mas as placas de sinalização turística que indicam o museu, segundo a prefeitura de Atibaia, serão retiradas nas próximas semanas. O museu será fechado por falta de dinheiro. Roberto teve de desativar parte da transportadora por mudanças nas regras do transporte aéreo, que causou prejuízo e o forçaram a demitir 200 funcionários. "Trabalhei a vida toda, sempre tive condições de manter o museu. Mas agora, quando o futuro de minha família começou a ficar em risco, tive de capitular", disse o empresário, que não conseguiu apoio público ou privado para manter o museu.

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