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Três placas pichadas na entrada de Nova Aliança do Ivaí mostram de cara que a menor cidade do Paraná não está isolada do mundo. Nelas aparecem o bordão "Não à Alca", comum entre militantes políticos de esquerda (principalmente estudantes). Em três dias de busca, foi impossível encontrar quem é o sujeito que, dos confins do Noroeste do Paraná, bate tanto contra a Área de Livre Comércio das Américas, tratado comercial idealizado pelos Estados Unidos que deve isentar a partir de 2006 as tarifas alfandegárias entre 34 países do continente.

Por outro lado, foi mais do que moleza achar internautas, loucos por telefones celulares, jogadores compulsivos de videogame e usuários de acessórios que parecem privilégio de quem vive na cidade grande. O segredo foi pôr os pés na escola. Lá, a primeira surpresa estava no braço de Melissa Steffani da Cruz, 9 anos.

A menina, cuja mãe ganha R$ 350 por mês na fábrica de jeans da cidade, usava uma pulseira amarela da campanha contra o câncer promovida pelo ex-ciclista norte-americano Lance Armstrong. O projeto do atleta, em parceria com a megamultinacional Nike, ganhou o planeta, gerou imitações e virou febre recentíssima no Brasil. Para comprovar é só bater o olho no noticiário esportivo para ver a quantidade de jogadores "empulseirados" espalhados por times de futebol de qualquer divisão.

Ajuda na internet

"Comprei de uma amiga minha, nem sei direito de onde veio", explica Melissa, que não lembrava quanto tinha desembolsado, muito menos tinha conhecimento do lado filantrópico do novo adereço (se é que ele é genuíno). O modo mais barato de comprar o penduricalho é pela internet. Por R$ 18, em média, é possível recebê-lo em casa – é só ter um cartão de crédito.

A menina e os pais não têm cartão, mas ela e as colegas sabem bem para que serve a internet. Entre os 150 alunos da 1.ª à 4.ª série da cidade, poucos ainda não acessaram a rede mundial de computadores, fato atestado com visitas às salas de aula. Na 3.ª série, Sara Geovana Valério Ribeiro da Silva, 9 anos, ajuda a professora com suas pesquisas. "Quando tem alguma coisa que pode ser bom para a aula, eu procuro na internet lá de casa", diz a mocinha, que recebe aulas de computação na escola.

"Cataratas"

Apesar do gosto pela pesquisa, Sara prefere os jogos. "Principalmente os que têm nave", enfatiza. A preferência também é quase unanimidade entre os outros estudantes, inclusive os que vivem na zona rural. Iverson Augusto de Paula, 10 anos, aluno da 4.ª série, conta que já teve cinco videogames. O atual é um Super Nintendo, mas ele já faz planos para ganhar um PlayStation 2 dos pais – uma dona de casa e um cortador de cana.

O presente deve custar cerca de R$ 1 mil e será mais um dos passatempos do menino. Seu preferido é ir ao salto do Rio Paranavaizinho, tido como o grande atrativo turístico do município. É para lá que ele costuma ir com o irmão, Carlos Iago. "Nem tire foto do resto da cidade, vá só na cachoeira", indicou o moleque. Fora a comparação com as Cataratas do Iguaçu (o salto não passa dos 5 metros de altura), até que ele tinha razão.

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