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São Paulo – A possibilidade de um corte da taxa básica de juros no país no primeiro semestre, como cogitavam muitos analistas, tornou-se remota. Isso porque a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na última quarta-feira revelou que a instituição está mais preocupada com a intensidade da desaceleração da economia dos Estados Unidos do que se esperava. Além disso, o BC americano reiterou suas preocupações com a inflação. Ou seja, o diagnóstico do Fed aumentou a chamada aversão ao risco: quando investidores tiraram dinheiro de países emergentes, como o Brasil, para aplicar em ativos mais seguros.

Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), faz uma análise sobre o assunto.

O mercado vinha demonstrando grande otimismo com os EUA. Qual seu ponto de vista com relação a isso? A ata do Fed altera a sua análise?

Kenneth Rogoff – É difícil encontrar racionalidade em movimentos semanais dos mercados acionários. O cenário central para a economia dos EUA é de pouso suave, no qual o crescimento vai desacelerar para um nível abaixo da tendência média. Uma recessão é possível, claro, pois costumamos ter recessões a cada dez anos. Estamos no sexto ano seguido de expansão. Mas a possibilidade de que ocorra é baixa, de cerca de 20%. A divulgação do documento não altera minha tese. O Fed admitiu que talvez estivesse um pouco otimista com a atividade econômica.

O que esperar da taxa de juros? Ela pode cair já no primeiro semestre?

Não é o mais provável. A inflação ainda está acima da zona de conforto. Enquanto não cair mais claramente, é difícil o Fed cortar a taxa, sobretudo porque a economia caminha para um pouso suave. O cenário mais provável é de manutenção nos 5,25% por um bom tempo. Há ainda uma chance de ir para cima antes de cair. É possível que a inflação suba mais, pois os salários estão avançando e o desemprego está baixo. Se houver mais pressões inflacionárias, não creio que o Fed hesitará em subir o juro.

Qual é o quadro da economia mundial este ano?

Haverá uma desaceleração modesta na economia. Enquanto EUA e Japão estão desacelerando, a Europa deve continuar com performance melhor que a esperada. A China terá outro ano de bom crescimento

Na sua avaliação, o que o Brasil deveria fazer para crescer mais?

Do ponto de vista macroeconômico, o Brasil é muito sólido. Mas, no front microeconômico, infelizmente, há muito a fazer. Uma questão é a reforma trabalhista, que torne mais flexível as leis. Também é preciso aprimorar o mercado de crédito. Os mercados financeiros no Brasil são, ao mesmo tempo, incrivelmente sofisticados e muito pequenos. O crédito em diversas áreas ainda é primitivo. O Brasil também tem de se abrir mais do ponto de vista de comércio exterior. O país também deveria estreitar as relações com a China e outros mercados desenvolvidos de forma a driblar o protecionismo de que é vítima especialmente na área agrícola. A infra-estrutura é uma limitação. O sistema de educação melhorou nos anos 90, mas estacionou nos últimos anos. O Brasil deveria estar crescendo 5% ou 6% ao ano com uma economia mundial tão forte. O país tem capacidade para crescer nesse nível por muito tempo, desde que faça reformas. Se não, o país fica muito inflexível. Muitas áreas da economia brasileira são fechadas, inflexíveis. Isso precisa mudar.

Há chances de alguma grande crise econômica pela frente?

Temos vulnerabilidades, como o déficit em conta corrente dos EUA e o crescimento massivo dos fundos de hedge. Há muitas áreas em que posso apontar vulnerabilidades, mas não veremos uma grande crise na economia mundial enquanto conseguirmos manter uma relativa estabilidade do sistema político. Há lugares, claro, onde podemos ter problemas. A situação dos EUA no Iraque, por exemplo, é extremamente instável. Há a Coréia do Norte, que é imprevisível. E até mesmo o terrorismo. Mas a estabilidade política permanecerá relativamente forte em 2007.

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