O padre da grande utopia

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Dom Ladislau Biernaski Bispo da nova diocese de São José dos Pinhais.

"Filho e neto de lavradores, homem justo e temente a Deus, pastor e corajoso defensor dos sem-terra, apaixonado da reforma agrária." A frase foi escrita por dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra. A intenção era definir o caráter de Dom Ladislau Biernaski, bispo auxiliar de Curitiba durante mais de 20 anos e agora nomeado pelo Papa como o primeiro bispo da nova diocese de São José dos Pinhais. Não poderia ser melhor: a frase diz de maneira rápida e precisa quem é o homem que Bento XVI encarregou de cuidar de grande parte dos fiéis do entorno de Curitiba.

Dom Tomás Balduíno sabe bem de quem fala. Há anos ele e Bienarski lutam pelos mesmos ideais. Um deles é a evangelização. Outro, levado tão a sério quanto o primeiro, é a obrigação que ambos se auto-impuseram de tentar dar uma vida melhor aos seus semelhantes. "Está no Novo Testamento", diz dom Ladislau, cheio de ideais aos 69 anos. "É claro que é uma utopia, mas se não houvesse utopias os movimentos sociais não estavam aí."

Nascido em 1939 em Almirante Tamandaré, Ladislau sempre viveu no meio rural. Descobriu cedo sua vocação. Aos 25 anos, foi ordenado sacerdote, e aos 40, sagrado bispo. Com direito a uma honra rara na Igreja: a cerimônia de sua sagração foi presidida pelo próprio Papa João Paulo II. "Fomos 25 bispos consagrados naquele dia", lembra o descendente de poloneses. Tudo isso apenas um ano depois da coroação de João Paulo II, em 1979.

Designado para trabalhar em Curitiba, foi auxiliar fiel de dom Pedro Fedalto por duas décadas. Na maior parte do tempo, dom Pedro teve três auxiliares, cada um cuidando de uma parcela do território. Dom Ladislau foi sempre o "bispo do interior", rodando pelos municípios mais distantes – e normalmente mais pobres – da diocese. Para facilitar suas andanças, manteve residência em São José dos Pinhais.

Recentemente, o Vaticano decidiu que era hora de desmembrar mais uma vez a diocese de Curitiba, que já tinha mais de 3,5 milhões de habitantes na sua jurisdição. A sede da nova diocese seria São José dos Pinhais. Nada mais natural do que pedir ao bispo que já morava lá que desse seus palpites. "Coordenei os estudos para a criação da diocese, mas imaginava que para uma diocese nova iriam querer um bispo novo", diz ele. Enganou-se. A votação de seus colegas, levada ao núncio papal, apontou-o como um dos favoritos para administrar a nova região. Ele foi escolhido entre uma lista tríplice levada a Roma.

A posse de dom Ladislau será na igreja matriz de São José dos Pinhais, que a partir de agora passa a ser também a catedral da nova diocese, em 19 de março próximo. É o dia de São José, padroeiro da cidade e padroeiro dos trabalhadores. "Pedi ao núncio, dom Lorenzo Baldisseri, que fosse nessa data."

Na nova diocese, dom Ladislau diz que terá de trabalhar com dois tipos de moradores. Um, o público urbano, de cidades como São José e Araucária. Outro, as pesssoas dos municípios tipicamente rurais, como Piên e Campo do Tenente. "Mas esse pessoal do campo, na minha diocese, até é privilegiado", afirma. Para defender as bandeiras dos pequenos agricultores e dos pobres, dom Ladislau vai se unir novamente aos movimentos sociais. "Não vamos resolver sozinhos os problemas dessas pessoas", diz ele. Tudo para chegar um pouco mais perto da grande utopia de fazer todos os pobres melhorarem de vida.

Rogerio Waldrigues Galindo