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Pulo do gato

Criptografia teria evitado a invasão das contas de e-mail de servidores

As contas de e-mail de policiais e servidores públicos do Paraná estariam protegidas das invasões se o governo do estado adotasse duas ferramentas básicas de segurança eletrônica: a criptografia e a assinatura digital. Segundo o professor do programa de pós-graduação em Informática da PUCPR Altair Santin, combinadas, essas tecnologias praticamente reduziriam a zero a invasão dos correios eletrônicos.

Quando um usuário envia um e-mail, os dados trafegam até o servidor (SMTP) de origem. Deste, a mensagem vai até o SMTP de destino, onde é acessado destinatário da mensagem. O percurso "entre servidores" é desprotegido. Nesta lacuna é que podem ocorrer interceptações. A criptografia protege todo o percurso da informação, porque ambos os usuários só conseguem enviar e acessar os dados após lançarem mão de chaves cifradas, à prova de fraudes.

Já assinatura digital garante que o e-mail foi mesmo enviado pelo dono da conta. Ainda que esta tenha sido violada, se o invasor enviar uma mensagem, tentando se passar pelo titular do e-mail, não vai conseguir assiná-la digitalmente. "Essas chaves criptografadas são invioláveis. Este era o pulo do gato para proteger os e-mails: bastaria aliar a criptografia à assinatura digital", explica.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) – autarquia federal vinculada à Casa Civil da Presidência – corroborou que a certificação digital é uma das ferramentas que traria um elevado grau de segurança e que, em caso de práticas eletrônicas ilegais, identificaria os invasores das contas. Segundo o ITI, a tecnologia garante que apenas emissor e destinatário tenham acesso à informação.

Relembre o caso

E-mails de servidores públicos do Paraná, entre eles agentes das forças de segurança, foram violados por um usuário secreto da Celepar, empresa que administra os servidores do sistema. Entenda como funcionou o esquema:

Expresso Livre Mail

É uma ferramenta de e-mail e agenda desenvolvida pela Celepar. O sistema é usado pelas 23 secretarias de estado, Casa Civil, Procuradoria-Geral do Estado, Casa Militar, institutos, autarquias e entidades ligados a elas, além de 19 prefeituras do estado e o Ministério Público do Paraná.

A invasão

As contas de e-mails corporativos do Expresso Livre Mail eram invadidas por um usuário secreto, o "Administrador Expresso Sesp", que acessava todas as caixas postais sem ser visto pelo titular da conta. Além de ler, o invasor poderia excluir, criar e enviar mensagens. Por enquanto, confirmou-se que servidores das polícias Científica, Civil e Militar e auditores da Receita Estadual tiveram as contas invadidas. Ainda não há informações sobre o número total de servidores que foram espionados.

23 secretarias de estado utilizam o Expresso Livre Mail, ferramenta desenvolvida pela Celepar. Além delas, 19 prefeituras do Paraná também utilizam o sistema.

As Polícias Civil, Militar e Científica devem deixar de usar o servidor central da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar) após a Copa do Mundo. Todos os dados e informações usadas pela segurança pública do Paraná serão armazenados em outro servidor, que está sendo construído para ser usado durante o campeonato mundial.

A decisão de mudança já havia sido tomada antes mesmo de a espionagem vir à tona. É senso comum entre as polícias que trafegar informações sigilosas por meio de uma empresa não é seguro. O equipamento ficará em uma sala-cofre na própria Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) também abandonará o servidor da Celepar. Em novembro passado, o órgão assinou um contrato de aquisição do Google Apps for Business para melhorar o e-mail funcional. A tecnologia adquirida é um conjunto de softwares, que propicia também mais segurança.

A Polícia Científica desenvolveu um sistema a parte do servidor da Celepar, por meio do qual controla e organiza as informações sobre laudos do Instituto de Criminalística. O sistema interno opera com chaves de acesso independentes da Celepar. Apesar disso, os e-mails funcionais são Expresso Livre, vinculados à empresa.

Policiais vão denunciar interceptação de dados à OIT

Delegados, policiais civis e militares entenderam como "gravíssima" a interceptação das contas de e-mail de agentes de segurança pública do Paraná. O Sindicato dos Investigadores do Paraná (Sipol) anunciou que vai apresentar uma denúncia formal à Organização Internacional do Trabalho (OIT), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, a entidade que representa os agentes também deve acionar o Ministério da Justiça e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

"Além de ser uma afronta ao estado democrático de direito, é algo gravíssimo e que tira a liberdade do policial. Trata-se de uma prática criminosa. Que segurança temos? Não podemos ser submetidos a isso", disse o presidente do Sipol, Roberto Ramires.

No domingo (2), a Gazeta do Povo mostrou que as polícias Científica, Civil e Militar, além da Receita Estadual, tiveram as caixas de e-mail invadidas por uma conta administrada a partir da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar). Um dos servidores estaduais que teve as mensagens interceptadas revelou que pretende ingressar com uma ação cível na Justiça contra a Celepar.

"Uma coisa que me chama atenção é a possibilidade de eles poderem colocar e tirar o compartilhamento a qualquer momento. Pode invadir, roubar informação e apagar o rastro", afirmou a vítima, que pediu para não ser identificada. Ainda de acordo com o servidor, a fragilidade é maior porque não há criptografia, já que a Celepar não atenderia os requisitos para ser certificada. "O servidor dela não é seguro", comentou.

Um delegado da elite da Polícia Civil disse que os agentes da corporação já haviam sido informados de que as contas de e-mail corporativas vinham sendo espionadas. Segundo ele, os servidores defendem a apuração rigorosa do crime. "Nosso trabalho é sigiloso. Se alguém está nos espionando, qual o interesse obscuro que há por trás disso? Talvez o próprio agente que grampeou esteja com receio de ser investigado pela polícia", disse.

Uma policial militar, que também foi vítima da interceptação, classificou como "preocupante" a espionagem. Ela apontou que informações confidenciais circulavam diariamente pelos e-mails corporativos e podem ter sido acessadas pelo invasor. "Por mais que seja uma conta institucional, a gente se sente invadida. É o extremo absurdo [a espionagem]. Nós confiávamos no sistema, mas agora vimos que não temos segurança. É grave, principalmente porque, hoje em dia, não tem como tramitar tudo via papel", observou.

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