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Usuária de crack em atividade em Ponta Grossa: governo federal estima em 600 mil o número de usuários da droga no país | Henry Milléo / Gazeta do Povo
Usuária de crack em atividade em Ponta Grossa: governo federal estima em 600 mil o número de usuários da droga no país| Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo

Comunidades terapêuticas

Unidades ganharão 189 leitos

Até o final deste ano, as comunidades terapêuticas do Paraná terão mais 189 leitos para dependentes de crack e outras drogas. A oferta está prevista no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack. Hoje, o número de leitos nas comunidades é desconhecido. Segundo o presidente do Centro de Recuperação Água da Vida (Cravi), de Curitiba, Flávio Lemos, fala-se em 8 mil comunidades terapêuticas no Brasil e cerca de 60 em Curitiba e região metropolitana.

O que se pode afirmar, com certeza, conforme Lemos, é que a demanda por esse tipo de atendimento é crescente. "Desde que os leitos psiquiátricos fecharam por causa da lei da reforma psiquiátrica, as comunidades terapêuticas passaram a cumprir o papel que era do Estado", opina. O Cravi, localizado em Curitiba, atende de 50 a 60 pessoas atualmente, entre homens e mulheres. Em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, a comunidade terapêutica Copiosa Redenção – Rosa Mística atende 32 mulheres. "Temos uma procura diária de cinco pessoas pelas vagas, principalmente agora, no começo do ano", diz a diretora da comunidade, Silvonete Aparecida Soares.

A Rosa Mística receberá 20 leitos por meio do plano nacional, mas o Cravi não ganhará novas vagas. Lemos disse desconhecer os motivos pelos quais seu projeto não foi aprovado. Já Silvonete pretende usar os recursos do governo federal para dar mais qualidade ao atendimento prestado na unidade. As demais vagas foram abertas em comunidades terapêuticas localizadas em Araucária, União da Vitória, Londrina, Rolândia, Lapa, Maringá, Curitiba, Cascavel e Campo Mourão.

  • Atividade na Comunidade Copiosa Redenção, em Ponta Grossa: unidades que serão instaladas servirão como abrigo

O Plano Integrado de Enfren-tamento ao Crack, lançado em maio do ano passado pelo governo federal, trouxe novidades para o Paraná em 2011. Os municípios de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, de Cascavel, no Oeste, e de Para-navaí, no Norte, serão os primeiros do estado a ter as Casas de Acolhimento Transitório (CAT) para abrigar dependentes que estão na fase de reinserção social após o início do tratamento. As unidades abrirão 40 vagas para dependentes químicos que não podem voltar para suas casas por estarem em situação de risco ou serem rejeitados pela família.

O abrigo será mantido pelo governo federal, por meio do Ministério da Saúde, em parceria com os municípios. Em todo o país, 16 estados receberão 38 projetos neste ano. Os municípios foram escolhidos a partir da aprovação de projetos enviados à Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), ligada ao Ministério da Justiça, após editais lançados em setembro. Os resultados foram divulgados no início de janeiro, mas os convênios ainda não foram assinados e os recursos ainda não foram enviados às prefeituras.

Dois CAT-1, com capacidade para dez pessoas cada, serão instalados em Araucária e Paranavaí. Cascavel receberá um CAT-2, com 20 vagas. As duas categorias permitem internamentos de até 40 dias. O primeiro tem custo de instalação de R$ 120 mil e o segundo de R$ 180 mil. O subsídio federal inclui ainda uma verba mensal de manutenção, pelo período de um ano, de R$ 18 mil para as unidades menores e de R$ 24 mil para a maior. Os municípios entram com o espaço físico e os recursos humanos.

Em Paranavaí, segundo o coordenador de Saúde Mental no município, Ari Martinez, a casa começar a funcionar entre 60 e 90 dias. Em Cascavel, o imóvel está sendo reformado para receber o projeto. De acordo com a gerente municipal da Divisão de Saúde Mental, Iara Agnes Bach da Costa, a unidade entra em funcionamento assim que verba de instalação for depositada. A prefeitura de Araucária preferiu não comentar os detalhes do projeto até que o convênio seja assinado.

As CATs servirão como um abrigo e terão equipes de apoio para atender os dependentes. Como a aprovação dos projetos pela Senad estava atrelada à existência de um Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (Caps-AD) nos municípios, os dependentes encaminhados para as casas deverão ser tratados nos Caps, que funcionam pela manhã e à tarde com oficinas terapêuticas e assistência psicológica e médica.

As novas unidades foram concebidas ainda em 2009 no Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção de Álcool e Outras Drogas (Pead), que foi potencializado pelo Plano de Enfrentamento ao Crack. As primeiras unidades foram instaladas em Recife (PE) e em São Bernardo do Campo (SP). Segundo os dirigentes da Saúde Mental dos três municípios paranaenses, há demanda para os serviços. O Ministério da Saúde estima que existam 600 mil usuários de crack no país.

Lacunas

A psiquiatra e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Maria Thereza Aquino considera a iniciativa positiva, mas teme lacunas. Segundo ela, tudo é inédito quando se fala no enfrentamento ao crack, já que a droga é recente. "A coisa boa é tirar essa população dos lugares sombrios onde ela vive, exposta a riscos e a doenças, mas por outro lado vai forçar o convívio de pessoas que podem não ter os mesmos ideais", afirma. Maria lembra a realidade do Rio de Janeiro, que tem facções criminosas rivais e cujos membros poderão ser atendidos em uma mesma unidade.

Para a psiquiatra, que estuda o crack desde os anos 90 no Brasil e nos Estados Unidos, o plano nacional, que contempla essa e outras ações, ainda não atingiu o "coração" da droga, que é o custo muito baixo. "Enquanto a pedra de crack estiver custando R$ 5 vai ser difícil combater a dependência. Preci-samos inibir o comércio dos insumos do crack, como o bicabornato de sódio e o éter, para deixar a droga cada vez mais cara", afirma.

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